A Safe-Crop juntou-se à Lusitania e aos produtores de batata para fazer o primeiro seguro paramétrico em Portugal. Pretende cobrir riscos de produtividade e de preço de venda.
A Safe-Crop, a seguradora Lusitania e a Porbatata, organização fundada em 2016 e que reúne 50 empresas e produtores com o objetivo promover a batata portuguesa, lançaram o primeiro seguro paramétrico agrícola em Portugal. Cobrindo os riscos de preços e produtividade, o sinistro – que dispensa peritagem na maioria dos casos – acontece quando a produção ou os preços da batata caem. Nesse caso a seguradora pagará a diferença entre o valor da produção e o rendimento garantido, que está previamente definido, tal como está o prazo do pagamento da indemnização.
A ideia agora lançada tem origem em Filipe Charters de Azevedo, economista e estatístico, ex-consultor Deloitte e da PwC e que foi fundador e é CEO da Data XL, uma empresa especialista em pricing de seguros e em produtos estatísticos para o sector financeiro. Com base na data XL decidiu lançar a Safe-Crop, uma managing general agent (MGA) para o setor agrícola, ou seja uma agência de subscrição com bastantes poderes para unilateralmente aceitar riscos em nome de uma seguradora. “Somos uma empresa que desenha os seus produtos, apoia a resolução de sinistros e é a principal responsável pela comercialização deste produto”, explica o CEO.
A seguradora que decidiu avançar na inovação foi a Lusitania Seguros. Segundo António Carlos Carvalho, Diretor de Marketing e Inovação da companhia portuguesa, “este seguro paramétrico é um produto inovador da Lusitania e com este produto apoiamos a fileira da batata portuguesa, estando ao lado dos agricultores que criam valor, partilhando os riscos do seu negócio”.
Os agricultores juntaram-se através da Porbatata e para o seu presidente, Sérgio Ferreira, “a garantia de rendimento aos produtores de Batata era uma necessidade há muito sentida no setor” e acrescenta que “pela primeira vez em Portugal, um produto agrícola tem uma proteção face às quedas de preço e de produtividade”.
O setor da batata é um setor exportador e muito sensível ao comércio internacional. Portugal exporta um terço do que produz e importa dois terços do que consome, não estando o preço necessariamente ligado ao excesso ou escassez de produção nacional. Segundo o INE, há cerca de 20 mil hectares de produção de batata, sendo que cerca de um terço desta área é para consumo. “É esse o nosso target a médio prazo com este produto”, confidencia Charters de Azevedo, “sendo certo que haverá uma fatia importante que nunca desejará seguros e prefere arriscar”, acrescenta.
“Nós cobrimos riscos que o produto de colheitas tradicional não cobre”, afirma Charters de Azevedo resumindo as vantagens do seguro paramétrico em relação ao habitual que tem estado imutável desde a sua criação em 1979. “O seguro de colheitas cobre produtividade por riscos nomeáveis”, ou seja, “garante que se o terreno não der o número de toneladas que era expectável, devido a um fenómeno meteorológico, o seguro entra em ação”, explica.
Uma oportunidade que a Safe-Crop identificou é um dos problemas atuais do seguro de colheita: é do tipo one-size-fit-all. Para a MGA “o objetivo é ter produtos seguradores à medida de cada produto agrícola”. Assim para cada cultura vão avaliar o risco e definir uma estratégia de mitigação por via de seguros. E os próximos passos serão para aquelas que tiverem um risco de preço ou de rendimento para poderem estender o produto e esta mecânica muito rapidamente.
Agricultor indemnizado por quebra de produção ou baixo preço no mercado
Sendo a batata a primeira fileira a explorar no setor agrícola, o gestor explica o mecanismo: “o rendimento dos produtores de Batata varia em cada mês (em Portugal podemos ter produção quase todo o ano). Conforme o mês de produção é possível ter mais ou menos receita. Porém, as quedas no rendimento dos produtores são abruptas e imprevisíveis. Pedimos ao produtor que indique e comprove o preço do Kg de batata na sua última produção e a sua produtividade olímpica (a média dos últimos 5 anos, excluindo o melhor e o pior ano)”.
Após a recolha desta informação a Safe Crop solicita ao produtor que indique, com estes dados e com uma análise do custo dos fatores de produção, o valor mínimo que pretende obter por hectare. Pode haver algumas limitações ao capital pedido dado histórico indicado e as condições de mercado.
No final de cada campanha é apurado o rendimento do produtor. Verifica-se se o preço ou se a produtividade caiu face ao ano anterior. Se o valor combinado do preço e da produtividade for abaixo do rendimento definido, será paga uma indemnização”.
Os indicadores paramétricos são procurados em informação oficial. Explica Charters de Azevedo que “o INE publica mensalmente um indicador de preços da Batata. Se o INE disser que o preço desceu face à campanha anterior (e a produtividade se mantiver) é provável que o rendimento efetivo esteja abaixo do mínimo definido. E nesse caso haverá direito a uma indemnização”. Quanto à produção conseguida, o CEO refere que “da mesma forma o INE publica ao longo do ano, vários indicadores de produtividade de Batata. Se com os cálculos do INE a produtividade olímpica descer face à campanha anterior, é provável que o rendimento esteja abaixo do mínimo definido. Nesse caso também haverá direito a uma indemnização. “No final, as contas são fáceis de fazer”, adianta o CEO, “usamos variações de índices e regras de 3 simples”, conclui.
Otimismo existe, as declarações de Sérgio Ferreira confirmam: “com este produto a Porbatata cumpre a sua missão de apoio à produção da Batata Portuguesa com uma solução inovadora. Estamos confiantes na adesão do setor a esta ferramenta de gestão, há muito requerida pelo setor”, conclui o presidente da associação de produtores de batata.