Já arderam mais de 50 mil hectares de floresta e matos em Portugal em 2020

Em sete meses e meio ardeu o equivalente a metade da média da área ardida na última década no mesmo período. Só o incêndio de Proença-a-Nova/Oleiros representa cerca de um terço do que as chamas consumiram em 2020 no território continental e tornou-se o maior incêndio da Península Ibérica e um dos maiores da Europa até agora

Desde o início do ano até 15 de setembro arderam 48.870 hectares — entre povoamentos (20118 ha), matos (22967 ha) e área agrícola (5785 ha) —, segundo dados do relatório nacional provisório de incêndios rurais do Sistema de Gestão Integrada de Incêndios (SGIF). Os dados estatísticos oficiais indicam que, “comparando os valores de 2020 com o histórico dos 10 anos anteriores, registaram-se menos 52% de área ardida relativamente à média anual do mesmo período”, o que equivale ao “quinto valor mais reduzido de área ardida desde 2010”.

Contudo, as contas do relatório não incluem a totalidade do maior incêndio registado este ano em Portugal e classificado como um dos maiores da Europa. O fogo iniciado no domingo em Proença-a-Nova e que se estendeu para Oleiros, tendo só sido dado como dominado esta quarta-feira de manhã, terá consumido mais de 16 mil hectares em cinco dias. Este valor só por si corresponde a um terço da área ardida este ano em Portugal continental.

“Com todo o esforço que se tem vindo a fazer [na prevenção e no combate] seria de esperar que não tivéssemos fogos com mais de 15 mil hectares”, afirma o especialista em ecologia florestal José Miguel Cardoso Pereira, reconhecendo que “não haverá por essa Europa fora fogos desta dimensão”. O investigador do Instituto Superior de Agronomia (ISA) lembra que o estudo elaborado pela sua equipa em 2018 identificava que uma boa parte do Pinhal Interior (onde se inserem Proença e Oleiros) estaria na lista das zonas mais preocupantes a ter em conta face ao risco de incêndio”. Isto porque, explica, “não arderam em 2017, mas sim em 2003 e 2005, e estavam prontas para voltar”. “Aquela mancha contínua de floresta (sobretudo pinhal) pouco foi gerida nestes anos”.

Este ano houve 10 incêndios com área ardida superior ou igual a 1000 hectares e 60 incêndios com mais de 100 hectares e que consumiram 80% do total da área ardida. 86% dos 8812 fogos registados este ano não destruíram mais de um hectare cada um e este foi o segundo ano com valor mais reduzido em número de fogos na última década.

E num país onde a meteorologia dita muito o comportamento das chamas, o relatório provisório aponta para o facto de a área ardida deste ano ser “consideravelmente inferior à expectável tendo em conta a meteorologia verificada”.

Já quanto às causas, os dados estatísticos apurados até agora permitem perceber que o incendiarismo representa 36% dos casos em 2020; as queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas 15%; e os reacendimentos 12% dos 3486 incêndios investigados (responsáveis por 45% da área total ardida).

O incêndio de Proença é um dos que “terão começado por causa dolosa de natureza criminosa”, disse esta quarta-feira o ministro da Administração Interna (MAI), Eduardo Cabrita. O caso está a ser investigado e o ministro alertou que “não são admissíveis nestas áreas, pelas suas condições naturais de risco muito elevado [de incêndio], comportamentos negligentes que aumentam o risco e provocam incêndios”. “Ainda menos admissíveis são os indicadores preliminares que ainda hoje nos foram transmitidos pelo Comando Regional da GNR de que o incêndio possa ter começado por causa dolosa.”


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