Xavier Viegas

Xavier Viegas alerta que incêndios “não têm solução”. É preciso apostar na prevenção

Os fogos florestais vão ser cada vez mais intensos e frequentes, e é urgente tomar medidas. O especialista dá hoje a última aula na Universidade de Coimbra.

Domingos Xavier Viegas considera que os fogos vão ser “cada vez mais intensos e frequentes” e são “um problema que não tem solução”. Por isso, a última aula como professor da Universidade de Coimbra é “um contributo para os incêndios florestais”, numa tentativa de apresentar várias abordagens que minimizem o seu impacto.

Uma das medidas prioritárias para o especialista é a gestão das florestas. “Que espaços florestais queremos? Que tipo de floresta? Como é que ela deve estar ordenada?”, questiona, alertando que “fazer mais do mesmo que se tem estado a fazer não faz sentido, porque estamos a criar riscos potenciais para o futuro”. Xavier Viegas admite que este é um setor “onde é difícil intervir e atuar, porque a floresta é privada”, mas “é a que temos e é com ela que temos de trabalhar”. Ainda assim, diz ter “alguma esperança” numa alteração da política florestal no futuro, porque sente que já há “alguns sinais” de mudança “num campo que estava muito estático”.

A gestão das aldeias merece também a atenção do especialista, principalmente num contexto em que as zonas rurais têm cada vez menos pessoas. “Os próximos anos se calhar vão ser piores do ponto de vista climático”, por isso, se as pessoas continuarem a “fugir dos espaços rurais” é necessário que sejam tomadas medidas. “Antes, qualquer foco de incêndio era rapidamente abafado, porque havia pessoas lá”, explica, pelo que agora vai ser necessário “usar outros recursos, como por exemplo a tecnologia, sistemas de deteção, sistemas robotizados”.

Apesar de haver ainda muito trabalho por fazer, o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra acredita que desde os incêndios de 2017 houve alguma aprendizagem, porque hoje a população “já interiorizou” a importância de manter os espaços à volta de casa limpos. “Há dias estive a percorrer a zona de Proença-a-Nova e passámos por várias aldeias que sabemos que não foi possível defender, não houve tempo para as pessoas se retirarem”. No entanto, “não houve fugas de última hora, porque as pessoas estavam conscientes de que tinham condições de ficar”. O professor relata que o fogo “passou à volta da aldeia, e quando entrou para perto das casas foi com muito menos intensidade”, não havendo, por isso, vítimas mortais.

Para Xavier Viegas, a limpeza da floresta contra os incêndios é um dos aspetos mais importantes, porque “a prioridade é a defesa da vida das pessoas”. O docente considera que se deve apostar “na formação da população” para que perceba como pode evitar riscos em caso de incêndio.


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