No Centro Mundial de Inovação, em França, os investigadores recorreram a algas resistentes às variações das marés da Bretanha para desenvolver uma nova geração de bioestimulantes que tornam as plantas mais aptas para enfrentarem os efeitos das alterações climáticas.
Instalado há seis anos em Saint-Malo, uma cidade portuária no noroeste de França, o Centro Mundial de Inovação (CMI) do grupo Roullier tem vindo a trabalhar em soluções para, entre outros objetivos, mitigar os efeitos extremos das alterações climáticas no setor agrícola.
Para que tal seja possível, torna-se imperativo “aumentar a qualidade de produção, melhorar o solo e otimizar os recursos naturais”, assegurou Sylvain Pluchon, diretor de produtos R&D do CMI, durante uma visita ao centro.
Nesta zona portuária da região da Bretanha a variação de marés pode atingir os 13 metros, o que confere às mais de 600 espécies de algas aqui existentes – recurso “essencial” para o CMI – uma “grande resistência” ao ‘stress’ hídrico, vento, salinidade e variação de temperaturas.
“Estes elementos são fundamentais para que outras plantas também resistam aos efeitos severos das alterações climáticas”, observou o especialista que trabalha no centro há 10 anos.
Convictos que “a natureza inspira a tecnologia”, os investigadores começaram a estudar o potencial das algas e dos componentes que permitem a sua resistência às variações de marés, assim como outros recursos naturais (minerais) para desenvolverem uma nova geração de bioestimulantes.
Resultado de mais de oito anos de investigação, 450 ensaios laboratoriais e 250 ensaios de campo em diferentes países – incluindo Portugal -, estes produtos permitem “produzir mais, com menos”, revelou Jessica da Costa, diretora de desenvolvimento de produtos da Timac Agro, filial do grupo.
Subdividida em cinco segmentos, a nova gama de bioestimulantes – batizada de ADN – confere uma melhoria da performance genética da planta, ampliando e maximizando as suas capacidades, tendo como consequência indireta a redução do uso de fitossanitários.
“O nosso objetivo não é substituir os produtos fitossanitários, mas assumimos que indiretamente há uma redução porque sabemos que a planta está em melhor estado”, esclareceu.
Ainda que a nova gama já tenha sido lançada no mercado, nos laboratórios e mais de 1.200 metros quadrados de ‘greenhouses’ do CMI vários são os ensaios científicos em curso.
Se num dos espaços as plantas se movimentam em circuitos, semelhantes a uma linha de montagem, para que o seu crescimento seja monitorizado, noutro espaço as raízes e as sementes são estudadas com recurso a uma ferramenta de computação avançada.
Da necessidade de “pensar local e globalmente as alterações climáticas”, nestes laboratórios as plantas são também expostas às condições climatéricas sentidas noutros países onde o grupo tem presença, seja através de unidades de produção (97 países) ou onde comercializa (131 países).
O aumento da temperatura, a par da escassez da água e da terra agrícola, desafia o setor agrícola a realizar “uma transição profunda dos seus sistemas produtivos” e a garantir a segurança alimentar em 2050, ano em que se estima que a população mundial ultrapasse a barreira dos 10 mil milhões.
Se em 1950 um hectare representava a produção agrícola para alimentar uma pessoa, estima-se que em 2050 um hectare produza alimentos para, pelo menos, cinco pessoas no mundo.
Para atingir esse objetivo e fazer face à severidade e frequência dos fenómenos extremos das alterações climáticas, os investigadores do CMI estimam que a produção agrícola terá de aumentar 50%, a produtividade e eficiência 70% e a sustentabilidade dos sistemas 40%.
Até então, persiste o desafio de adaptação, que terá de ser “imediato”, defendeu Jessica da Costa, lembrando que “quanto mais tarde, mais difícil será”.