A doença do sobreiro e os incêndios são apenas a face mais visível da serra do Caldeirão na sua longa marcha para a desertificação.
A partir da segunda metade este século, o Algarve e o Alentejo “terão uma redução de 50% da água disponível”. O alerta foi deixado pelo presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, durante o Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento (Seneg), realizado há cerca de uma semana em Vilamoura. No mesmo seminário, a WWF Portugal lembrou que, “nos últimos 50 anos, multiplicou-se por dez o consumo de água na região algarvia”. As assimetrias, dentro da mesma região, são evidentes. Ao litoral com relvados e culturas intensivas (citrinos e abacateiros) contrapõe-se um interior cada vez mais árido.
A doença do sobreiro e os incêndios são apenas a face mais visível de uma morte anunciada. A terra, sequiosa, já não dá de beber à dor dos proprietários florestais, as principais vítimas da fitóftora. “Plantar sobreiros é o mais fácil, difícil é criar as condições para que eles sobrevivam”, diz o vice-presidente da Associação de Produtores Florestais da Serra do Caldeirão, Gilberto Pereira, comentando a perda de produção de cortiça. “A morte das árvores velhas até se pode considerar uma causa natural, mas o que nós observamos é que os sobreiros novos estão também a secar”. Os sintomas da doença, explica, começam por se manifestar através de umas “nódoas negras no tronco, segue-se a mudança de cor das folhas e a queda anormal da folhagem”. O tombo final pode levar uma década. “Mas também há casos de morte súbita”, acrescenta.
Os fogos e as alterações climáticas, diz o silvicultor, “poderão estar a contribuir para a morte acelerada do montado mas não explicam tudo o que se está a passar”. A associação que representa, adianta, “já foi parceira de três projectos de investigação e continuamos sem respostas”. O sobreiro, recorda, não é apenas a árvore Património Nacional – “é a principal fonte […]