Entidades do agronegócio brasileiro publicaram na segunda-feira uma carta em defesa da democracia, indicando que o país precisa de “paz e tranquilidade” para ter um desenvolvimento socioeconómico efetivo e sustentável.
A carta foi assinada por sete das principais entidades do agronegócio do Brasil, país que se tornou num dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo, num dos setores que mais tende a sofrer com os danos da imagem do país no mercado externo.
As organizações tornaram públicas as suas preocupações “com os atuais desafios à harmonia político-institucional e, como consequência, à estabilidade económica e social” do país, apelando às lideranças que se “mostrem à altura do Brasil e da sua história”.
“As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia”, aponta o texto.
O documento cita mais de três décadas de liberdade e pluralismo, com alternância de poder em eleições legítimas e frequentes após “a Constituição de 1988, que definiu o Estado Democrático de Direito”.
“É de liberdade que precisamos — para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar, no Brasil e no exterior. É o Estado Democrático de Direito que nos assegura essa liberdade empreendedora essencial numa economia capitalista, o que é o inverso de aventuras radicais, greves e paralisações ilegais, de qualquer politização ou partidarização nociva que, longe de resolver nossos problemas, certamente os agravará”, diz o texto.
O documento alerta que, como uma das maiores economias do planeta e um dos países mais importantes do mundo, “sob qualquer aspeto”, “o Brasil não se pode apresentar à comunidade das nações como uma sociedade permanentemente tensionada em crises intermináveis ou em risco de retrocessos e ruturas institucionais”.
As entidades salientaram ainda que o “Brasil é muito maior e melhor do que a imagem que tem projetado ao mundo”, frisando que isso está a “custar caro” ao setor e “levará tempo para reverter”.
Assinaram o texto a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Brasileira dos Produtores de Óleo de Palma (Abrapalma), Associação Brasileira dos Industriais de Óleos Vegetais (Abiove), Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), CropLife Brasil, Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) e o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg).
Ainda nesta segunda-feira, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) suspendeu a divulgação de um manifesto onde faria críticas à crise institucional entre os três poderes.
De acordo com a imprensa local, o motivo da suspensão foi a reação do próprio Governo de Jair Bolsonaro, que ameaçou retirar o Banco do Brasil e a Caixa Económica Federal dos associados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entidade que representa instituições financeiras do país e que aderiu à nota idealizada pela Fiesp.
As posições de várias entidades surgem num momento de instabilidade institucional no país.
Nas últimas semanas, Jair Bolsonaro tem atacado e provocado atritos com o poder judiciário por defender o voto impresso nas eleições, proposta que já foi derrotada em votação no Congresso, e também porque tem sido, juntamente com apoiantes políticos, alvo de inquéritos e mandados de busca e prisão devido a discursos e ameaças que manifestam contra a democracia e membros do sistema judiciário.
Nesse sentido, Bolsonaro e os seus apoiantes convocaram manifestações por todo o país para 07 de setembro, data em que se comemora a independência do país.