Governo dos Açores recebe 27 candidaturas à reconversão de explorações de leite em carne

O Governo Regional dos Açores recebeu 27 candidaturas de reconversão de explorações de leite em explorações de carne, um número “dentro do normal”, apesar da crise do setor leiteiro, segundo o secretário regional da Agricultura.

“Esta reconversão não pretende terminar a produção de leite nos Açores. Não é este o objetivo. Pretende criar uma oportunidade de reconversão para alguns produtores que por várias razões sociais e económicas – desde logo que tenham a haver com a idade, com problemas relacionados com doença – tenham essa oportunidade de reconversão para um outro tipo de produção que lhes permita continuar a obter algum rendimento da exploração pecuária”, adiantou hoje, em declarações à Lusa, o titular da pasta da Agricultura nos Açores, António Ventura.

O prazo de entrega de candidaturas para reconversão de explorações de leite em carne foi prorrogado e terminou na passada terça-feira.

No total, o executivo recebeu 27 candidaturas (mais seis do que em 2020), nas três ilhas em que era possível fazê-lo: 17 em São Miguel, nove na Terceira e uma na Graciosa.

O secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural disse que estes números estão “dentro daquilo que é normal”, mas reconheceu que “há uma crise na bovinicultura de leite nos Açores, que se manifesta através dos baixos preços pagos ao produtores”.

A migração do leite para a carne não é, no entanto, na opinião do governante, a solução para o problema do setor.

“Os Açores têm uma vocação no âmbito da bovinicultura de leite que importa não perder de vista. Esta atividade nos Açores cria riqueza, contraria o despovoamento, fixa pessoas e tem a capacidade de desenvolver novos negócios”, defendeu.

Segundo António Ventura, o setor leiteiro necessita de uma “valorização em termos de rendimento”, que passa não só pela adoção de políticas públicas, como pela “responsabilidade social” de todos os intervenientes na fileira do leite.

No próximo ano, além da portaria que prevê apoios para reconversão de explorações de leite em explorações de carne, deverá ser aberta uma portaria semelhante para reconversão de explorações de produção de leite em modo convencional para modo biológico.

“Considero que o mercado nos próximos tempos vai começar a procurar este tipo de produtos”, justificou o governante.

Além da majoração de fundos comunitários na produção em modo biológico, o executivo açoriano prevê dar apoio técnico para essa reconversão e desenvolver ações de sensibilização junto dos produtores.

Apesar de os produtores de leite se queixarem dos preços pagos pela indústria e dos limites impostos à quantidade de leite entregue nas fábricas, ameaçando mesmo reduzir o efetivo, o secretário regional da Agricultura acredita que é possível rejuvenescer o setor nos Açores.

“A nossa vontade é que nos próximos períodos de candidatura no âmbito dos apoios dos fundos comunitários possamos receber pedidos relacionados com jovens agricultores”, apontou.

António Ventura comprometeu-se a criar no próximo Orçamento da Região uma ação de valorização da fileira do leite, para que as explorações de leite voltem a “dar lucro”.

“Através de políticas públicas, vamos criar condições para que o produtor se sinta seguro, quer em termos de rendimento, quer em termos de mercado, no âmbito da sua produção, para que produzir leite nos Açores não seja uma atividade de medo”, avançou.

O estudo sobre a formação de preços nas diferentes ilhas, encomendado pelo executivo açoriano, deverá estar concluído “até ao final do ano”, mas, ainda antes de serem conhecidos os resultados, o governante alerta que “é preciso que todos os elos da fileira tenham responsabilidade partilhada”, porque são “interdependentes”.

“Acima do produtor todos os elos têm uma tendência de assegurar a sua fatia – pode ser até uma fatia de leão, ainda não sabemos – esquecendo-se toda a responsabilidade que deve existir em toda a fileira”, sublinhou.


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