A insustentável viabilidade da vida das aldeias na floresta – Pedro Brilhante Pedrosa

É preciso pensar estrategicamente e a longo prazo, juntar vontades e criar sinergias (coisa difícil no nosso país), e de uma vez por todas investir nas pessoas e nos territórios e sua promoção, garantindo a viabilidade e a sustentabilidade dos investimentos e principalmente das vidas dos que lá estão ou para lá vão temporariamente.

Quatro horas rodeado pelo fogo levaram a quatro anos de esforços resilientes. Viver numa das aldeias afetadas pelos incêndios de 2017 permite chegar a conclusões muito pragmáticas e realistas, para além do rebuliço político, parangonas mediáticas e pensamentos académicos. A conclusão é simples: fazendo o que todos estamos a fazer, deverá haver coragem política para estrategicamente assumir que em algumas centenas de aldeias em Portugal não é viável viver de forma segura e sustentável. E concentrar (todos) os esforços para tornar um conjunto delas realmente viável, aquelas que se tornariam imediatamente objeto de desejo dos habitantes rurais de sempre, de putativos novos rurais, de fugitivos de vidas urbano-depressivas e dos famosos nómadas digitais.

Junho (e depois Outubro) de 2017 trouxe-nos como já foi dito por muitos, um marco nacional traumático para o qual há antes e um depois. Qual derrota histórica contra um inimigo comum que nos baterá à porta sempre que lhe apetecer – os incêndios florestais. Passados quatro anos bastará dar um belo passeio saindo das estradas principais geridas pela agora zelosa IP e teremos frondosas alamedas sombreadas de acácias, eucaliptos e afins, muitas vezes formando refrescantes túneis verdes nas estradas municipais de alguns concelhos do antes denominado Pinhal Interior. Ou seja, a natureza fez eficientemente o seu trabalho e restabeleceu esplendorosa viçosidade de vegetação e floresta espontânea por todo o lado. Incluindo nos locais que afetam a segurança de quem teima em povoar o tão falado Portugal esquecido e despovoado, ou quem agora o visita procurando recato e sair da confusão. Prontinho para arder da mesma forma ou mais forte que em 2017. Até aqui nada de novo e é a natureza a fazer o seu caminho.

O que é incrivelmente óbvio é que se perdeu uma oportunidade de haver um processo de mudança de atitude de todos em fazer as coisas diferentes: dos proprietários perceberem que podem e devem ter floresta mas não de qualquer maneira e lugar, dos gestores políticos locais que devem ser mais exigentes e atuantes na garantia de cumprimento das regras de gestão e ordenamento do território e da floresta intervindo se necessário, dos governantes do país em fazer

Pedro Brilhante Pedrosa

Mestre em Ordenamento do Território e Planeamento Ambiental, Ex-presidente da Associação de Moradores da Ferraria de São João, Penela

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