A procura e os preços do gado bovino têm sofrido oscilações durante a pandemia de covid-19, mas o que mais ‘assusta’ um produtor do Alentejo é a subida dos fatores de produção e eventuais problemas com exportações.
Os preços das matérias-primas “estão a ser um verdadeiro peso para toda a atividade”, alerta o empresário agrícola e dirigente associativo Diogo Pestana de Vasconcelos, em declarações à agência Lusa.
Com propriedades localizadas nos concelhos de Évora e de Viana do Alentejo, a Agrosava, empresa agropecuária dirigida por Diogo Pestana de Vasconcelos, tem como principal atividade a produção de bovinos e ovinos e possui mais de 1.000 cabeças de gado.
É na exploração situada perto de São Manços, no concelho de Évora, que são criados bovinos que resultam de cruzamentos das raças Mertolenga e Aberdeen-Angus para venda em leilão de gado e para cadeias de supermercados portuguesas.
Assinalando que “o campo nunca parou”, o empresário nota que, apesar da covid-19, “os animais comem todos os dias e têm que ser vistos todos os dias” e que, neste setor, “não é possível fazer teletrabalho”.
“Claro que tivemos situações mais complicadas. Quando havia um contacto com um infetado, tínhamos que ficar em casa e, obviamente, não é fácil substituir pessoas [que trabalham] no campo”, salienta.
Diogo diz que os preços do gado “tiveram uma queda”, poucos depois do início da pandemia, devido às incertezas então vividas, que “na pior altura”, no verão de 2020, foi de “10% a 15% em relação ao ano transato”.
“As exportações, na altura, pararam e, depois, recomeçaram e o preço voltou a subir, mas tivemos dificuldades também na gestão disso tudo”, frisa o também presidente da Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL).
Segundo o responsável da Agrosava, o mesmo aconteceu com a procura, que “baixou um bocado”, com os vários períodos de confinamento, mas, como “as pessoas não param de comer”, os valores também já recuperaram.
Os preços e a procura já estão nos níveis anteriores à pandemia, mas o setor está agora “a braços com o crescimento dos fatores de produção”, em que o gasóleo atingiu “um preço perfeitamente proibitivo”, assim como as rações e os adubos, sublinha.
“Os adubos têm subidas mensais” e os agricultores não conseguem “fazer preço de adubo para 15 dias, porque os preços estão a subir todos os dias”, refere, considerando que o setor está agora “com graves problemas, mais do que no início da pandemia”.
Diogo Pestana de Vasconcelos defende que é preciso “tentar estabilizar os custos de produção”, pois argumenta que, com a seu aumento, o preço do gado também “tem tendência para subir, mas nunca compensa a subida exponencial dos custos de produção”.
“Não precisamos muito que os preços andem para cima e para baixo, precisamos é ter uma perspetiva estável”, o que, agora, não existe, devido à “grande escalada dos custos de produção e dos cereais”, insiste.
A par da recuperação dos preços e da procura, assegura o agricultor alentejano, as exportações estão “a dar uma grande ajuda ao mercado nacional” e são “um fator importante” para o setor.
“As exportações são basicamente para a bacia do Mediterrâneo” e, como Portugal tem “um clima igual” ao dos países desse território, os animais “estão muito bem adaptados às condições que lá vão encontrar”, disse.
O também presidente da AJASUL destaca a aposta de Portugal na produção de gado com “muita qualidade”, em que são utilizados animais de “raças autóctones cruzando com exóticas”, observando que “no estrangeiro pagam bem a qualidade superior dos animais”.
“Se o mercado continuar aberto para a exportação e não houver problema nesse aspeto, temos condições para manter o setor com alguma tranquilidade”, antevê, acrescentando que o país “é deficitário em carne”, pelo que “convém manter a produção”.
O dirigente associativo confessa ainda estar expectante em relação à reforma da Política Agrícola Comum (PAC), esperando que se mantenham “as ajudas aos animais”.
A AJASUL, com sede em Évora e polos em Reguengos de Monsaraz e Portel, tem cerca de 1.000 associados, todos no distrito de Évora.