A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) lamentou hoje a “ausência” e “passividade” do Governo que leva a que a produção de leite em Portugal esteja cada vez mais “na cauda da Europa”.
Em comunicado, a APROLEP recorda que diversas indústrias de laticínios em Espanha anunciaram esta semana a subida do preço do leite ao produtor em cerca de dois cêntimos a partir de agosto, para fazer face ao aumento dos custos de produção.
O preço médio em Espanha ao produtor foi de 33,2 cêntimos/litro em 2020, mas um estudo do Ministério da Agricultura espanhol estimou um custo médio de 35,6 cêntimos, refere.
Segundo a APROLEP, o aumento dos custos de produção também ocorreu em Portugal, no entanto, o Ministério da Agricultura “não apresentou qualquer estudo sobre os custos de produção” apesar de ter reconhecido as dificuldades que se vêm a registar no setor do leite, num contexto de significativo aumento dos custos da alimentação animal.
“Em Portugal, enquanto os produtores sofrem aumentos, assistimos apenas ao atirar de culpas da indústria para a distribuição que ignora a nossa situação e permanece em silêncio. Perante a ausência do primeiro-ministro e a passividade da ministra da Agricultura, a produção de leite em Portugal ficará cada vez mais na cauda da Europa”, refere.
“Tudo isto provoca uma revolta e abandono de produtores que, pela nossa parte, não chegou ainda às ruas, porque muitos dos produtores de leite não estão ainda vacinados e a pandemia agravou-se nos concelhos onde vivemos, cultivamos a terra e produzimos leite, mas se não houver um aumento do preço do leite a breve prazo não restará outra alternativa – deixar os campos e colocar os tratores na rua”, avisa a associação.
Para a APROLEP, é “incompreensível assistir à atualização do preço de outros produtos de origem animal, que aconteceu, por exemplo, com os ovos, e não ver isso acontecer no leite”.
“É um absurdo ter o pior preço do leite ao produtor em toda a Europa, seis cêntimos abaixo da média e ficar a partir de agosto quase cinco cêntimos abaixo do preço médio em Espanha. Tudo isto é surreal, porque ocorre num país com mercado deficitário no setor. Portugal importa anualmente cerca de 500 milhões de euros em leite e produtos lácteos e exporta apenas 250 milhões”, refere.
“É inexplicável que uma grande indústria, pertença de cooperativas, com peso no mercado, não seja capaz de valorizar o leite dos associados a um nível mínimo de sobrevivência. É inaceitável que indústrias multinacionais, que transformam o leite em produtos de valor acrescentado onde são líderes de mercado, não sejam capazes de mostrar a diferença e pagar mais aos seus produtores”, acrescenta.
A APROLEP considera ainda “inexplicável” que os supermercados e cadeias de distribuição alimentar “não sejam capazes de dar o primeiro passo para salvar a produção de leite em Portugal”.
Produção de leite em Portugal cada vez mais na cauda da Europa!