Marisa Costa

A grande distribuição e a grande desvalorização da agricultura – Marisa Costa

Todos os dias somos bombardeados com informação e publicidade a enaltecer o papel das empesas da grande distribuição no apoio à produção nacional. Desdobram-se em mensagens, cartazes e publicidades bem conseguidas para sensibilizar os portugueses do seu papel altruísta.

Ninguém fica indiferente a estas mensagens e temos consciência dos benefícios que a compra de produtos locais e nacionais tem para o ambiente e para a economia. Passar a ideia de que os produtores nacionais são beneficiados favorece a perceção que o consumidor tem de determinada marca ou empresa.

Das frutas aos legumes, dos lácteos aos cereais todos os produtores estão a ser “usados” pela grande distribuição.

Como produtora de leite é com indignação que assisto à forma como a grande distribuição “cuida” da produção nacional. É frequente vermos campanhas e promoções de leite UHT a preços baixos. Este ano assistimos à venda de leite UHT a 0.29€ e a 0.39€/litro.

Apoiar um setor de atividade é garantir que ambas as partes saem a ganhar, é garantir que o preço pago por 1L de leite consegue cobrir os custos de produção. Verificamos frequentemente que o leite é utilizado como isco para captar clientes, verificamos que são muitas e frequentes as promoções com o leite. Sabemos que aquando as negociações com a indústria são propostos preços que em nada dignificam a produção de leite portuguesa.

Dia após dia são maiores as exigências para os produtores, dia após dia aumentam o preço dos fatores de produção, dia após dia aumenta o endividamento da maioria dos agricultores, dia após dia sentimos a incapacidade da indústria de proteger o rendimento da produção, dia após dia sentimo-nos mais esquecidos pelo governo e poder político e dia após dia O PREÇO PAGO AO PRODUTOR MANTÉM-SE HÁ MUITOS ANOS.

Não é compreensível que 1L de água custe tanto ou mais que 1L de leite.

Não é compreensível que se continue a “usar e abusar” dos produtores de leite para atrair clientes aos supermercados.

Não é compreensível que se use a mentira e manipulação para enriquecer.

Não é compreensível que não se dê à agricultura e ao setor primário a importância que ele merece.

Marisa Costa

Vice–Presidente da APROLEP

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