Os produtores de plantas e flores, que chegaram a registar quebras diárias de dois milhões de euros, reclamam apoios a fundo perdido para mitigar o impacto da pandemia de covid-19 e contestam os créditos disponibilizados.
“O nosso setor faz parte da economia e quem teve quebras de faturação devia ter acesso a apoios a fundo perdido como alguns setores tiveram, e muito bem”, defendeu a Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPP-FN), em resposta à Lusa.
Segundo esta associação, “muitos bancos não facilitaram” o acesso à linha de crédito disponibilizada pelo Governo “devido às condições pouco favoráveis”.
Neste sentido, as empresas que não conseguiram aceder às primeiras linhas de apoio covid-19, “tiveram que recorrer a outros financiamentos”, uma vez que era “incomportável esperarem mais de sete meses pela mesma”.
A par das dificuldades de acesso, a associação lembrou que esta foi uma “solução temporária”, que acabou por contribuir para o endividamento das empresas.
Em setembro de 2020, o Governo anunciou a criação de uma linha de crédito até 20 milhões de euros, com juros bonificados, para produtores de plantas e flores com dificuldades de tesouraria.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, enviados à Lusa, esta linha contabiliza, até ao momento, 12 projetos e 1.515.613 euros de crédito enquadrado, estando ainda disponíveis 18.484.398 euros.
Já no âmbito das linhas de crédito de emergência covid-19, o setor agroalimentar tem contratualizados 600 milhões de euros, ou seja, 10% do volume de crédito disponível.
Dentro destas operações encontram-se 40 referentes à cultura de flores e plantas ornamentais no valor de 5,2 milhões de euros.
A APPP-FN vincou ainda ser necessário apoio do Ministério da Agricultura para partilhar o seu conhecimento tendo em vista encontrar, em conjunto, a resolução para os problemas do setor.
Em 2016, foi publicada uma resolução da Assembleia da República que recomenda ao Governo a promoção de uma estratégia nacional para o setor das plantas e flores ornamentais, “que até ao momento não foi concretizada”.
Paralelamente, a associação considera ser “urgente” a constituição de entidade onde estejam reunidos todos os intervenientes do setor “com o objetivo de darem os seus contributos para aumentar a representatividade económica”.
A associação exige também apoio ao nível das atividades de investigação, ensino e formação, bem como a realização de uma campanha que promova “o consumo regular de flores e plantas naturais e que crie mecanismos de apoio” para esta atividade.
“A abertura de linhas de investimento específicas para o nosso setor, que permitam resolver as situações de sanidade atuais e aumentar a área de produção do setor. Portugal tem condições edafoclimáticas muito favoráveis que temos de aproveitar”, acrescentou.
Entre março e maio de 2020, face à quebra abrupta do consumo, as empresas do setor tiveram que destruir grande parte da produção, chegando a registar quebras diárias de dois milhões de euros.
O inquérito da APPP-FN que avaliou os prejuízos entre março e junho de 2020 concluiu que os prejuízos resultantes da pandemia de covid-19 rondam cerca de 50% do negócio total.
“O setor da flor de corte terminou o ano com quebras de 30% a 40%, enquanto as plantas ornamentais conseguiram ultrapassar melhor a crise, face ao aumento da procura de plantas para jardins e casas durante o confinamento”, revelou.
Ao nível das exportações, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2020, verificou-se um aumento de 9% no que diz respeito às plantas vivas e produtos de floricultura e uma diminuição de 12% nas importações.
Já em janeiro de 2021 verificou-se um decréscimo das exportações, face ao período homólogo, de 14 milhões de euros, para 11 milhões de euros.
No início da pandemia, algumas empresas aderiram ao regime de ‘lay-off’ parcial, mas acabaram por retomar a atividade normal para garantir a manutenção das culturas, explicou a associação, sublinhando que algumas acabaram por diminuir a área de produção entre 30% e 50%, bem como o número de trabalhadores.
A redução ou suspensão de casamentos, festas e romarias, as limitações nos funerais e o fecho do canal Horeca (hotéis, restaurantes a cafés) foram alguns dos fatores que tiveram impacto no setor.
Por outro lado, o confinamento levou os consumidores a “perceberem a importância de ter plantas em casa”, investindo nos seus jardins e varandas.
“O crescimento desta paixão pelo verde, para o qual as redes sociais também contribuíram, refletiu-se nas compras dos portugueses. Venderam-se plantas hortícolas e aromáticas, plantas da época e plantas de interior, onde foram estrelas as monsteras e as calatheas”, adiantou.
Constituída em 1982, a APPP-FN integra viveiristas, produtores de ornamentais de exterior e interior, produtores de flor de corte, folhagens, entre outros, representando 80% da produção nacional do setor.