“Este é o momento de Portugal” – Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal

Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, acredita que 2021 será um ano de ouro para as exportações de vinho português, apesar de reconhecer a situação financeira muito difícil dos pequenos vitivinicultores. Um setor a duas velocidades devido à pandemia.

As exportações nacionais de vinho aumentaram em 2020, mas apesar disso 6 em cada 10 empresas que produzem vinho em Portugal viram as vendas cair no ano passado, segundo estudo da Associação Nacional das Denominações de Origem Vitivinícolas. Que balanço faz do impacto da pandemia no setor?

As exportações de vinho aumentaram em 2020, voltando a bater o recorde de valor de exportações. A grave situação pandémica que afetou o Mundo em 2020 trouxe grandes alterações de mercado e, com isso, algumas clivagens entre os produtores. Por um lado, estão os produtores que exportam para cadeias de grande distribuição ou para monopólios de Estado, que viram as suas exportações aumentarem de forma substancial e, por outro lado, produtores que exportavam para pequenas lojas ou para o canal da Restauração que viram, na sua maioria, as suas exportações a diminuírem. São duas realidades distintas que nos deixam apreensivos sobre a situação económica dos pequenos produtores que viram a maioria dos seus canais de venda a serem encerrados em 2020, quer no mercado nacional, quer nos demais mercados. Ou seja, apesar das exportações portuguesas de vinho terem aumentado em valor e em volume, temos muitos produtores numa situação financeira muito difícil.

Quais são as expetativas da ViniPortugal quanto à evolução das vendas de vinho português no 1º semestre de 2021?

Apenas temos dados até fevereiro de 2021, onde podemos verificar um aumento de 2,96% em valor, tendo igualmente aumentado em volume e em preço médio. Ainda que a evolução do mercado mundial de vinho esteja fortemente dependente da evolução da situação pandémica no Mundo, temos fortes expectativas que voltaremos a ter um excelente comportamento das nossas exportações de vinho.

«Este é o momento de Portugal. Sentimos isso nos mercados onde estamos a operar e temos fortes expectativas que a escolha dos consumidores de vinho, nos nossos mercados prioritários, irá recair cada vez mais nos nossos vinhos»

A forma como a ViniPortugal promove o vinho português alterou-se com a pandemia. O que destaca como oportunidade e desafio nesta modalidade mais digital?

Temos de encarar os momentos difíceis como oportunidades. E foi isso que fizemos na ViniPortugal. A nossa forma de promoção dos vinhos portugueses teve de ser totalmente alterada e pudemos constatar, com agrado, que a grande maioria das novas ações de promoção foram altamente eficientes. Deixou de ser possível visitar os mercados, participar em feiras e eventos ou realizar provas com os nossos vinhos nos pontos de venda. Assim, focámos mais as ações na realização de provas através de plataformas digitais, publicidade em redes sociais e em televisão e muita promoção no retalho, com decoração de lojas com a marca “Wines of Portugal”. As várias ações que foram realizadas acabaram por ter um impacto muito positivo na venda dos nossos vinhos.

Qual é a sua perspetiva sobre o futuro da proteção fitossanitária da vinha perante a Estratégia do Prado ao Prato e o Pacto Ecológico Europeu?

A preocupação ambiental é cada vez maior nas populações mundiais, sobretudo nos países europeus e em outros países como EUA, Canadá, Japão e muitos outros.

«No nosso sector vitivinícola, a palavra Sustentabilidade está, cada vez mais, na ordem do dia»

Mas não nos podemos esquecer que a Sustentabilidade tem três vertentes, todas de grande importância: ambiental, social e económica. A Estratégia do Prado ao Prato parece esquecer as vertentes social e económica e está ferida de falta de gradualidade. Pretende, em curto espaço de tempo, atingir objetivos, sem que os mesmos tenham sido alvo de estudo em termos de viabilidade e sem que sejam oferecidas alternativas aos viticultores. Com mais tempo de adaptação, com a criação de alternativas viáveis e com mais gradualidade, será um caminho que temos seguir para reduzir a nossa pegada ecológica neste Mundo.

O artigo foi publicado originalmente em Alimentar com inovação.


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