António Rios Amorim: “Uma tonelada de cortiça pode sequestrar até 73 toneladas de CO2”

As florestas de sobreiro são habitats importantes para a biodiversidade e a economia circular descobre agora também uma série de novas funcionalidades boas para o ambiente, como pavimentos e revestimentos. Em entrevista à VISÃO, o presidente da Corticeira Amorim, o maior grupo de transformação de cortiça do mundo, revela que tem apostado em novas técnicas de gestão do sobrado, de forma a aumentar a resiliência e salvaguardar a continuidade desta matéria-prima

Qual o potencial da cortiça numa transição para um mundo que se quer mais sustentável?

A cortiça, sendo um produto 100% natural, 100% renovável e 100% reciclável, afigura-se como uma excelente alternativa quer para reduzir a dependência global de produtos não renováveis, quer para baixar a pegada de carbono de produtos finais. A Corticeira Amorim procura constantemente acrescentar valor à cortiça, e mantém um papel proativo na ampliação do vasto campo de aplicação deste material único. Uma matéria-prima que, sustentada pelas suas características inatas, destaca-se também pela sua leveza, excelente isolamento e consequentemente eficiência energética.

Adicionalmente, a produção de cortiça é indiscutivelmente a principal atividade económica do montado de sobro. Desta forma, a produção de cortiça é o agente dinamizador da criação de interesse económico para os proprietários de montado de sobro e para a manutenção da exploração do sobreiro. Por seu lado, o montado de sobro, além de ter um papel importante na geração de riqueza para as pessoas na região do Mediterrâneo, tem também um papel fundamental na promoção de funções ecológicas, como a conservação do solo, o armazenamento de carbono, a retenção de água, a preservação da biodiversidade e a regulação do clima. Um estudo realizado pela EY [Ernst & Young] concluiu que os serviços dos ecossistemas de um montado bem gerido têm um valor médio superior a 1300 euros / hectares/ ano.

A Amorim tem apostado em novas técnicas de plantação de sobreiros. Em que é que isso se tem traduzido na melhoria ambiental?

Ao longo das últimas décadas tem-se assistido à perda de vitalidade dos sobreiros devido, entre outros fatores, a más práticas de gestão, à ocorrência de agentes bióticos nocivos e a alterações climáticas. A preservação do sobreiro e do ecossistema montado é imprescindível para que se possa continuar a usufruir não só da cortiça produzida, mas também de muitos outros valiosos serviços dos ecossistemas para as populações da bacia do Mediterrâneo, como a regulação do clima ou a preservação da biodiversidade. Desde 2013 que a Corticeira Amorim tem em curso o Projeto de Intervenção Florestal (PIF) que visa tornar mais resilientes as áreas de floresta de sobreiro existentes, possibilitando, ao mesmo tempo, a introdução de novos modelos silvícolas, modernas tecnologias e material vegetal selecionado. O que permite instalar novas florestas de sobreiro, mais eficientes e resilientes, face aos cenários climáticos previstos.

Qual o contributo para a melhoria do ar que se respira?

Os ecossistemas florestais têm um papel importante na regulação do clima. As plantas durante a fotossíntese capturam CO2 da atmosfera, libertando oxigénio enquanto retêm carbono. Ora, os sobreiros possuem uma longevidade média de 200 anos. Como a árvore não é cortada durante a extração de cortiça, e o processo tem efeitos negligenciáveis na retenção de carbono, o sobreiro tem a capacidade de sequestrar e reter carbono ao longo do seu ciclo de vida, contribuindo, assim, para a regulação climática. A capacidade de sequestro de carbono varia

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