Passada a fase da colheita da erva, das lavouras e da sementeira do milho, o silêncio reina sobre os campos e sobre as redes sociais 🙂 de quem terminou as sementeiras. Quem ainda não terminou também fez uma pausa por causa da chuva dos últimos dias. Para quem já semeou, está o trabalho todo feito? Vejamos alguns exemplos:
- Com temperatura acima de 20 graus, ao fim de uma semana o milho começa a nascer. De certa forma, o “milho-bébé” 🙂 precisa de atenção redobrada como os bébés das outras espécies vegetais e animais. Depois de verificar que todo o milho está a nascer e não houve falhas no semeador ou na semente, temos de visitar regularmente os campos semeados para acautelar ataques de pragas, sobretudo insetos do solo (“roscas” e “alfinetes”) mas também lesmas, caracóis, pássaros que arrancam o milho jovem (corvos e gralhas) e mais tarde uma nova praga, a lagarta desfolhadora. E depois virá, em alguns casos, a monda química, a sacha e adubação antes de começar a rega.
- Para quem tem animais, como nós temos vacas leiteiras, o trabalho de alimentar e ordenhar nunca parou, mas podemos agora dar uma atenção redobrada a alguns cuidados extra: limpezas, desinfeções, controlo de moscas, manutenções do equipamento… por exemplo, ontem estivemos a trocar as tetinas de silicone da maquina (robô) de ordenha.
- No fim das sementeiras é tempo de fazer a manutenção das máquinas e alfaias. As coisas mais simples todos fazemos em casa (lavagens, lubrificações com massa consistente e parafinação, limpeza de filtros, etc), outras exigem a deslocação à oficina: esta semana fui colocar um pequeno vidro que foi substituído por fita cola nas últimas semanas. A fita-cola cinzenta é uma das coisas mais importantes para o agricultor, depois do canivete, do alicate, dos fios, dos arames e wd40 (passe a publicidade 🙂 )
- Quem tem hortícolas, frutas ou vinhas tem de fazer semanalmente os tratamentos, ainda mais nestes dias de chuva e calor, que o povo diz “estar bom para o arejo” (ataque de míldio).
- Burocracia: Temos de registar as sementeiras, adubações e tratamentos dos campos, nascimentos, tratamentos e movimentações dos animais, levar as faturas ao contabilista, etc. – não esquecer as candidaturas das ajudas anuais até 31 de maio!
- Apesar da folga que estes dias de chuva trouxeram, será tempo de preparar os sistemas de rega, trabalho dificultado pela dispersão das parcelas que exige motores e canalizações para aproveitar a água disponível nas captações que fizemos ao longo de gerações.
Muito a propósito, um colega canadiano partilhou a definição de agricultura de uma colega dos Estados Unidos : «Fazer agricultura é dizer “depois desta semana as coisas vão abrandar um pouco…” e repetir isto sucessivamente ao longo de toda a vida» 🙂
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.