O ministro da Agricultura e Pescas de Angola disse hoje, em Luanda, que a praga de gafanhotos, que afeta o sul do país, teve início em 2020, na província do Cuando Cubango e já afeta mais quatro regiões.
António de Assis falava na abertura de um ‘webinar’ sobre Monitorização e Controlo da Praga dos Gafanhotos, promovido pelo ministério que dirige e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
O governante angolano disse que depois do início, em 2020, no Cuando Cubango, a praga de gafanhotos vermelhos proveniente de países da África Austral, nomeadamente as vizinhas Repúblicas da Namíbia e Zâmbia, já alastrou, este ano, desde março para o Cunene, e em abril para Benguela e Namibe, estando atualmente na Huíla.
“Estamos a viver tempos que requerem de todos nós a criação e mecanismos de adaptação, de maior resiliência para a salvaguarda da segurança alimentar e nutricional das nossas populações”, destacou o ministro.
Segundo António de Assis, desde os primeiros eventos, a Comissão Interministerial de Combate à Praga de Gafanhotos, criada pelo Presidente angolano, tem em curso trabalhos no terreno junto das equipas de monitorização do fenómeno.
Dados disponibilizados hoje indicam que, no Cuando Cubango, um total de 1.280 famílias, o equivalente a 6.400 pessoas, foram afetadas.
Na província do Cunene, 908 lavras, equivalente ao mesmo número de famílias, ficaram destruídas, com um total de 5.448 pessoas afetadas, enquanto no Namibe 38 famílias foram afetadas e o mesmo número de lavras devastadas.
Os dados sobre a situação nas províncias da Huíla e Benguela não estão, por enquanto, disponíveis, estando os serviços de proteção civil a incentivar a população para o uso de métodos tradicionais para afastar os gafanhotos, como a colocação de latas em arbustos, a queima de pneus e vibrações sonoras para dispersar os insetos.
O ministro referiu que Angola conta com o apoio técnico da FAO e da organização internacional de controlo de gafanhotos vermelhos da África Central e Austral, todos empenhados “no controlo e combate” deste mal, “que destrói os campos de produção e consequentemente os resultados da campanha agrícola preconizada”.
“Cientes de que os meios disponíveis são escassos, e por todas as ações que temos vindo a desenvolver, estamos convictos que juntos estamos a ser capazes de derrotar este grande inimigo da produção agrícola”, sublinhou.
Por sua vez, a representante da FAO em Angola, Gherda Barros, disse que a organização está comprometida com o seu papel de facilitador técnico neste processo liderado pelas autoridades angolanas.
Gherda Barreto revelou que a FAO tem estado a monitorizar mais de 16 milhões de quilómetros quadrados afetados por quase nove espécies desta praga.
“Como FAO vamos continuar com um processo de formação, que já está a ser conduzido há meses pelo ministério, com acompanhamento da FAO, e agora vamos tentar reforçar capacidades e tentar partilhar com diversos ‘experts’ a nível virtual”, explicou Gherda Barros, reforçando que “a ideia é avançar a nível do terreno, com um processo de formação mais extensivo e prático”.
Durante a apresentação foi avançado que a praga continua a criar constrangimentos a nível da segurança alimentar das populações, afetando quase um milhão de hectares de terras em países da África Austral, de acordo com o grupo de trabalho e segurança alimentar e nutricional.
De acordo com o consultor da FAO, Domingos Panzo, em Angola, as culturas e as pastagens nas províncias do Cuando Cubango e Cunene foram danificadas, havendo notícias recentes do mesmo desafio nas províncias de Benguela, Huíla e Namibe.
O técnico frisou que a situação do surto de gafanhotos continua na região, nomeadamente em Angola, Namíbia, Botsuana, Zimbabué e Zâmbia, estando em curso no país lusófono a criação de uma aplicação, a ‘eLocust’, capaz de monitorizar a praga através de satélite.
Domingos Panzo frisou que para fazer face a esta praga já foram mobilizados recursos de fundos das Nações Unidas e do Governo belga, que serviram de apoio para as ações, juntamente com os recursos que o Governo angolano disponibilizou para o combate à praga de gafanhotos.
Nos próximos tempos vai decorrer a formação sobre a aplicação ‘eLocust’, que permitirá monitorizar no terreno a situação da praga e reportar para a unidade de gestão e controlo de gafanhotos.
O consultor da FAO defendeu que fundos adicionais devem ser angariados, salientando que Angola está incluída numa carteira sub-regional de 1,5 milhões de dólares (1,2 milhões de euros), ainda em negociação.
A instabilidade do tempo, nomeadamente a alternância entre a seca e inundações são fatores que podem influenciar a migração de gafanhotos, que preferem solos arenosos para a colocação de ovos, podendo 40 milhões de insetos, reunidos num quilómetro quadrado, consumir, em apenas um dia, quantidades para 350 mil pessoas.
No ‘webinar’, foram apresentados temas sobre o “Panorama Regional e Nacional da Praga de Gafanhotos”, “Biologia do Inseto”, “Monitorização dos Gafanhotos”, “Controlo de Gafanhotos”, “Uso Correto dos Equipamentos de Proteção Individual”, “Manejo de Pesticidas”, “Aplicativo eLocust” e o “Papel da Proteção Civil na Monitorização da Praga dos Gafanhotos”.