A utilização de produtos para controlo da vegetação infestante e de espécies invasoras na floresta de produção deve seguir indicações precisas.
A vegetação arbustiva lenhosa (vulgarmente designada por matos) e as invasoras no subcoberto dos povoamentos florestais de eucalipto são duas das principais causas na propagação dos incêndios, provocando anualmente perdas económicas, ambientais e sociais incalculáveis. Para além disso, este material vegetativo compete com a árvore por água, luz e nutrientes, podendo originar quebras de produção na ordem de 10 a 20%, em média.
Então, como controlar a vegetação infestante e de invasoras nos povoamentos florestais? A resposta está em técnicas menos impactantes no solo, como o destroçamento, a trituração, a gradagem ligeira, ou a aplicação de herbicidas. Se as técnicas mecânicas são fáceis de usar e, por isso, tradicionalmente utilizadas, já em relação aos herbicidas, com aplicações menos usuais, é necessário atender a todas as indicações técnicas. Deste modo é garantida a eficiência dos herbicidas e o cumprimento da legislação em vigor, em particular com a utilização exclusiva dos produtos homologados pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV/SIFITO).
Nota prévia: só é permitida a compra e a aplicação de herbicidas por quem tiver Cartão de Aplicador ou de Técnico Responsável, emitidos pela DGAV.
Herbicidas sistémicos homologados:
• Com 360 g/L de glifosato, de preferência sob a forma de sal de potássio. Dose máxima: 10 L/ha.
• Garlon, com 480 g/L de triclopir, para uso exclusivo nas silvas. Dose máxima: 3 L/ha.
Produtos e doses recomendadas (homologados pela DGAV):
• Para infestantes anuais (ervas): produtos à base de glifosato com 360 g/L, a 2% (colocar 2 litros de produto comercial para 100 litros de calda);
• Para matos e invasoras (acácias e háqueas): produtos à base de glifosato a 360 g/L, a 5% (colocar 5 litros de produto comercial para 100 litros de calda). (Exemplo: meio litro de produto em 10 L de calda);
• Para silvas: 300 ml de Garlon para 100 litros de calda.
Nota importante: aplicar nas ervas anuais antes da floração e nos matos e invasoras em estado herbáceo (de preferência com cerca de 20 a 50 centímetros de altura no mato e nas háqueas, e até dois metros de altura nas acácias). Quando estes tiverem uma dimensão superior, aconselha-se o seu corte prévio.
Como aplicar: molhar bem a maioria das folhas da planta a controlar, sem provocar escorrência da calda.
Preparação da calda para aplicação de herbicidas:
• Colocar água limpa de impurezas no depósito do pulverizador até cerca de metade da quantidade de calda pretendida. A seguir, colocar o herbicida e encher com água. Aplicar a calda logo após a sua preparação;
• Em alternativa, pode efetuar-se a calda numa barrica, procedendo da mesma forma (colocar água até meio, a seguir colocar o herbicida e encher com água até à quantidade pretendida) e, logo a seguir, aplicar o produto.
Épocas de aplicação mais aconselhadas:
• Na fase de maior crescimento ativo das plantas: entre fevereiro e abril, no Sul do país e no Vale do Tejo; e durante a primavera, nas regiões do Centro e do Norte;
• Quando a aplicação é feita no outono, esta deve ocorrer depois das primeiras chuvas.
Condições climatéricas para esta operação:
• Para os produtos à base de glifosato, aplicar em dias amenos e ensolarados (com a temperatura entre os 8°C e os 25°C), sem vento ou com vento fraco, e com as plantas não orvalhadas;
• No caso do Garlon, para as silvas, aplicar preferencialmente com tempo fresco, mas sem chuva, com a temperatura até 20°C, para reduzir os riscos de volatilização deste produto fitofármaco.
O manuseio destes produtos obriga a vários cuidados, inclusive após as operações. A embalagem vazia deve ser lavada três vezes, inutilizada e depois entregue no local de compra do produto.
Cuidados a ter na preparação da calda, durante e no final da aplicação:
• Utilizar sempre os EPI e não comer, beber ou fumar durante estas operações. Depois das aplicações, lavar os equipamentos com água corrente e retirar os EPI. A seguir, deve lavar bem as mãos e a cara, com água e sabão;
• Preparar a calda a, pelo menos, 50 metros de distância de fontes ou cursos de água;
• Verificar o equipamento, de forma a evitar fugas de calda – fazer os “apertos” necessários;
• Não aplicar herbicidas a menos de 10 metros dos cursos de água e a menos de 30 metros de lagoas e albufeiras;
• A embalagem vazia deve ser lavada três vezes, inutilizada e depois entregue no local de compra do produto.
Equipamentos aconselhados
Para uma correta aplicação de herbicidas, aqui ficam alguns conselhos que devem ser seguidos relativamente aos equipamentos a utilizar.
Equipamento de aplicação:
• Pulverizador de costas, manual ou de bateria, com capacidade para 12-16 L;
• Barra de pulverização com manete para controlo da saída da calda e bicos de aplicação;
• Bicos de pulverização anti-deriva (reduzem a perda de produto e a contaminação da área e das plantas adjacentes).
Equipamento de proteção individual (EPI) para preparação da calda e para a pulverização:
• Fato de proteção com capuz ou chapéu;
• Luvas de nitrilo;
• Botas impermeáveis;
• Viseira ou óculos, e máscara.
Nota: Este guia é da autoria de José Rafael, engenheiro florestal da The Navigator Company. As informações aqui contidas não dispensam a leitura atenta dos rótulos das embalagens.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.