sobreiro

1 de junho é Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça

O Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça, que se celebra a 1 de junho, surge no calendário português para assinalar o interesse de uma espécie com grande simbolismo histórico e elevado valor ambiental, social e económico.

Passaram dez anos desde que foi considerado um símbolo da nossa paisagem agroflorestal, mas o sobreiro (Quercus suber L.) é, desde há muitos séculos, uma espécie emblemática e não apenas no nosso território. Para assinalar o seu valor, Portugal assinala a 1 de junho o Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça.

Valorizado desde a Antiguidade pelas qualidades da sua casca, o sobreiro tem descritas as qualidades e usos da cortiça desde há milhares de anos. Vários estudiosos identificam vestígios da sua utilização desde a China ao Egipto, inicialmente como vedante de recipientes, isolante para habitações e boia flutuante para a pesca. O filósofo grego Teofrasto já descrevia nos seus textos de botânica, há cerca de 2200 anos, como o Quercus suber se distinguia de outras espécies: “o descortiçamento circular acarreta a morte de qualquer árvore (…). Mas quem sabe constitui o sobreiro uma exceção. Porque este ganha mais vigor se se lhe tira a cortiça exterior…”

Esta longa utilização valeu-lhe, desde cedo, o estatuto de espécie protegida que tem atualmente. Por exemplo, o rei visigodo Alarico II (485-507) promulgou uma compilação de leis romanas em vigor na península ibérica que incluíam medidas de proteção dos sobreiros. No nosso território, foi provavelmente no século XIII que começou a sua proteção, com os Costumes e Foros de Castelo Rodrigo e Castelo Melhor, promulgados pelo rei D. Sancho I, em 1209, que determinavam multas a quem danificasse sobreiros, prejudicando a produção da lande utilizada na alimentação dos animais. Nos finais do século XIII, já no Reinado de D. Dinis, surgem cartas de proteção do sobreiro e da azinheira com proibição e punição “de queimadas e varejamento indiscriminado do fruto, colheita abusiva da rama verde e sobretudo cortes indevidos”, revela o trabalho “O Montado de sobro e o setor corticeiro: uma perspetiva histórica e transdisciplinar”.

Estas e outras características continuaram a ser descritas ao longo dos séculos, multiplicando aplicações da árvore mãe da cortiça, cujo valor se estende à bolota e à importância ecológica do montado, sistema desenvolvido pelo Homem e aperfeiçoado ao longo de séculos em Portugal, para “melhorar o aproveitamento e a rentabilização dos escassos recursos numa região caracterizada por um clima mediterrânico e solos pobres”.

Já no século XXI (2011), a Assembleia da República reforçou o estatuto simbólico do sobreiro, declarando-o como “Árvore Nacional de Portugal”. Este estatuto advém, entre outros aspetos, da sua importante função na conservação do solo, na regularização do ciclo hidrológico, no armazenamento de carbono e, entre outros, na qualidade da água, ou seja, assegurando serviços de ecossistema fundamentais.

Adicionalmente, o Dia do Sobreiro e da Cortiça assinala a importância deste recurso renovável de referência para a economia. Para além dos milhares de postos de trabalho que justifica, a cortiça tem um peso significativo nas exportações portuguesas: mais de mil milhões de euros em 2020 (e também em 2019), de acordo com as estatísticas de comércio internacional do INE – Instituto Nacional de Estatística. Este contributo é sublinhado pela APCOR – Associação Portuguesa da Cortiça, que o identifica como representando cerca de 2% das exportações de bens portugueses e 1,2% nas exportações totais, com um saldo positivo de 815,6 milhões de euros para a balança comercial. Portugal é, também, o maior exportador mundial de produtos transformados, com 63%, o correspondente a 986,3 milhões de euros.

Recorde-se que esta espécie estende-se por 720 mil hectares do território continental e cobre 22,3% da nossa floresta, de acordo com dados do 6.º Inventário Florestal Nacional.

3 sugestões para celebrar o Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça

No Dia Nacional do Sobreiro e da Cortiça, não faltam oportunidades para conhecer melhor esta espécie e aprofundar as suas características e benefícios. Deixamos três sugestões:

Descobrir o maior sobreiro do mundo

Em vários pontos do país existem vários sobreiros monumentais, árvores que se distinguem de outras da sua espécie pelo porte, desenho, idade, raridade, interesse histórico ou paisagístico. Um dos mais notáveis é conhecido como “Árvore casamenteira” ou “Sobreiro Assobiador”. Em 2018, este sobreiro inconfundível na aldeia de Águas de Moura (Palmela), foi distinguido como Árvore Europeia do Ano e está inscrito no livro do Guinness como “o maior do mundo”. São 16,2 metros de altura e uma frondosa copa cujo diâmetro se aproxima dos 30 metros.

Além da vasta sombra e do abrigo que proporciona às aves, destaca-se o seu contributo na produção de cortiça: é considerado o sobreiro mais produtivo a nível mundial, fornecendo cortiça suficiente para o fabrico de 100 mil rolhas.

Visitar o Observatório do Sobreiro e da Cortiça

Celebre o Dia desta Espécie, que pode viver até aos 250 – 300 anos, com uma visita ao Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche. Desenhado pelo arquiteto Manuel Couceiro, o edifício remete para a metáfora do sobreiro como elemento vivo. Além de laboratórios e oficinas destinados ao estudo do sobreiro e da cortiça, o edifício acolhe também um espaço dedicado à compilação de informação relacionada com a fileira da cortiça e um auditório.

Na região, pode explorar os percursos pedestres que o concelho tem para oferecer, observando a biodiversidade associada ao montado.

Conhecer o Planet Cork

Em Gaia, um novo museu dedicado à cortiça abriu portas em 2020 e é uma oportunidade para ficar a conhecer melhor toda a cadeia de valor associada ao sobreiro. Numa experiência interativa, o Planet Cork convida à descoberta dos mais diversos usos da cortiça. Desde a exploração ancestral do sobreiro até às mais variadas e vanguardistas aplicações, como as tradicionais rolhas de vinho ou a utilização na indústria aeroespacial, há muito para explorar e aprender neste museu.

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


Publicado

em

, , , ,

por

Etiquetas: