Rui Correia, CEO da Sonae Arauco

A sustentabilidade da floresta é também um dever das empresas – Rui Correia

No ano passado, em Portugal, a fileira do pinho concentrou 88% das empresas e 81% dos postos de trabalho das indústrias das fileiras florestais. Falamos, em concreto, de 8 516 empresas e 57 843 empregos.

Ou seja, além dos benefícios ambientais associados, a floresta de pinho é, em Portugal, sinónimo de criação de emprego, geração de riqueza, crescimento económico – e ganha ainda mais relevância se considerarmos que, através do Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal), a Europa quer transformar-se no primeiro continente com impacto neutro no clima e nos lembrarmos do papel da madeira para potenciar essa mudança de paradigma.

Enquanto material natural, renovável e reutilizável, a madeira apresenta-se como substituto de materiais com elevada pegada carbónica. Vejamos: cada tonelada de madeira captura da atmosfera 2 toneladas de CO2, enquanto que a produção da mesma quantidade de alumínio emite 16 toneladas de CO2, a de ferro, 2 toneladas, e a de cimento, 1 tonelada.

No entanto – e voltando ao retrato da fileira do pinho em Portugal -, há mais de duas décadas que o seu volume em crescimento está em declínio. Entre 2005 e 2019, a quebra foi de 37%. Entre 1995 e 2015, perdeu-se 27% da área plantada, o equivalente a mais de 13 mil campos de futebol todos os anos. Estes números tornam evidente que, a muito breve prazo, assistiremos a um desequilíbrio entre a previsível procura de soluções de madeira e uma menor disponibilidade para o abastecimento desta matéria-prima às indústrias transformadoras.

Como chegámos até aqui? Apesar de a fileira do pinho ser a que globalmente mais valor cria para o nosso país, esta tem sido particularmente fustigada pelos incêndios florestais e não é imune aos efeitos das alterações climáticas. Há, no entanto, um outro fator a pesar nesta tendência: a ausência de gestão florestal e a baixa produtividade estão a afetar a rentabilidade da espécie, tornando-a cada vez menos apelativa para os produtores florestais e colocando em risco a sustentabilidade de toda fileira.

É imperativo e urgente inverter a tendência de declínio, passando à ação. Acredito que as empresas de toda esta cadeia de valor têm um papel a desempenhar nesta mudança, e a base é o conhecimento, o investimento em programas de Investigação & Desenvolvimento que reúnam os melhores exemplos mundiais, que capitalizem experiências já realizadas e que gerem informação com base científica para partilhar com os produtores florestais, apoiando-os, por exemplo, na escolha das espécies mais adequadas a cada contexto. É este o trabalho que já iniciamos diretamente na Sonae Arauco e também no âmbito do ForestWISE – Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, do qual somos fundadores.

Numa altura em que é comummente aceite que não há criação de valor económico sem sustentabilidade ambiental e social, as preocupações com a exploração sustentável das florestas, um ativo natural com um papel determinante na sustentabilidade do planeta, devem ser uma prioridade para todas as empresas de base florestal. O futuro deste setor está, cada vez mais, dependente da nossa capacidade de aproveitar o território para gerar valor, através da exploração florestal sustentável e da industrialização da madeira e outros produtos, ajudando a fixar população no interior e preservando ecossistemas e modos de vida.

Rui Correia, CEO da Sonae Arauco

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