E porque, por mais voltas que o mundo dê, acho difícil haver gastronomia sem alimentos, vale a pena refletir sobre como vai ser, e como vai ser vista, a nossa agricultura no futuro.
O cenário é optimista: a agricultura portuguesa trará mais alimentos, será mais tecnológica, continuará a ser verde, trará mais dinheiro ao país e falará um pouco melhor.
Assim esperemos e assim terá que ser. Em 2050, daqui a apenas três décadas, a população mundial vai crescer e será necessário produzir mais 60% de alimentos.
A tecnologia será chave. Com a agricultura de precisão estamos a deixar a produção por hectare e a passar a produzir por metro quadrado. Isto quer dizer que com georreferenciação, ligada à internet das coisas, os agricultores portugueses estão a regar, proteger e fertilizar de forma muito mais direcionada, conseguindo melhores produções em cada parcela de terra, com os mínimos inputs (produzir mais com menos).
E porque continuará a ser verde. Melhor dito, ainda mais verde. Metade da superfície agrícola utilizada tem pastagens permanentes, ambientalmente inquestionáveis, produzindo biodiversidade e sequestrando carbono.
A restante é ocupada por agricultura que, apesar de poder ser intensificável, também tem potencial para melhorias ambientais. Mais uma vez, com recurso à tecnologia os impactos no solo e no ar serão mais cirúrgicos e por isso mais verdes.
Produzir mais e ser benéfico ao ambiente são objetivos à partida contraditórios, mas conciliáveis no futuro. A chave da equação será a tecnologia.
Porque trará mais dinheiro ao país? Mudanças estruturais, como o regadio do Alqueva, promovem novos produtos melhor remunerados pelo mercado, não só o azeite e as amêndoas, mas também as frutas e hortícolas, com um clima que nos coloca mais cedo nos mercados de exportação.
A inovação e o conhecimento, aqui, também trarão benefícios, permitindo aos produtores serem mais inovadores e conseguirem melhor preço. Com isso, virão mais divisas para o país.
E, finalmente, a agricultura portuguesa falará melhor. Agora não o faz bem, mas acredito que nos próximos tempos os agricultores vão comunicar mais, de uma forma mais moderna, através das redes sociais, com uma linguagem simples, mostrando o que fazem, aproximando-se da sociedade, naquilo que são hoje, e não o que eram no passado. Terão que o fazer, senão para o crescimento da agricultura, pelo menos para a sua sobrevivência.
Assim espero. E espero que alguns urbanos, que falam de cor, tenham tempo para ir ao terreno conhecê-la.
O artigo foi publicado originalmente em Eggas.