Há vinhas que servem para mais do que fazer vinho

Na crónica ‘Sem Preço’ desta semana, a jornalista Catarina Nunes escreve sobre a marca de cosmética que desafia o envelhecimento, aliando-se às videiras e às uvas

Em 1993, as vindimas nas vinhas do Chatêaux Smith Haut Lafitte, na região de Bordéus, revelam-se mais proveitosas do que apenas uma boa safra. São o início do desenvolvimento da marca de cosmética que, mais tarde, é pioneira na utilização do resveratrol contido nos galhos das videiras. Já lá vão 27 anos desde que a Caudalie descobre o potencial dos derivados da vinha no rejuvenescimento das células da pele. E a disrupção não parou, com novos ingredientes e patentes.

A história começa com o casal Mathilde e Bertrand Thomas, durante uma visita do diretor do laboratório da Faculdade de Farmácia de Bordéus à quinta dos pais de Mathilde, produtores de vinho. O professor Joseph Vercauteren revela-lhes que as grainhas das uvas contêm os mais poderosos agentes antioxidantes do mundo vegetal. Ao fim de dois anos, em 1995, são lançados os três primeiros produtos da Caudalie, marca que herda o nome francês do termo enológico para a unidade de medida da duração dos aromas do vinho na boca, após a degustação.

O casal Mathilde e Bertrand Thomas, fundadores da Caudalie, com a diretora-geral da Caudalie Portugal, Madalena Gusmão (ao centro)

O casal Mathilde e Bertrand Thomas, fundadores da Caudalie, com a diretora-geral da Caudalie Portugal, Madalena Gusmão (ao centro)

D.R.

São apenas os polifenóis contidos nas grainhas de uvas que marcam o arranque da marca francesa, mas hoje as fórmulas da Caudalie estão mais sofisticadas. À combinação do resveratrol do sarmento com o ácido hialurónico (já utilizados pela Caudalie em produtos anteriores), acrescenta agora o potenciador de colagénio vegan. A novidade não é só disruptiva por juntar três poderosos rejuvenescedores (já lá vamos), mas por representar a segunda patente da Caudalie em associação com a Harvard Medical School, em Boston, e David Sinclair. Este é o mediático biólogo australiano, especialista em envelhecimento e professor de genética em Harvard, que ostenta o título de uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, atribuído pela revista Time, em 2014.

A nova linha da Caudalie, a Resveratrol-Lift, mantém o nome da linha que lhe antecede, mas apresenta-se reinventada com o contributo da pesquisa e testes da Universidade de Medicina de Harvard. A patente anterior junta apenas o resveratrol e o ácido hialurónico, em que o polifenol da videira ativa as proteínas da juventude da pele e a macromolécula obtida da glucose do milho tem um efeito de preenchimento das rugas. Na nova fórmula é acrescentado o potenciador de colagénio vegan (obtido a partir das cascas de mogno, apanhadas de forma sustentável no Burkina Faso), que refirma atuando em todas as camadas da pele. A nova gama apresenta-se com cinco produtos, com texturas e aplicações diferentes, desde o redensificador (creme e fluído), ao creme de noite, passando pelo sérum e o bálsamo de contorno de olhos.

Creme tisana de noite (€€43,7/50ml); fluído caxemira com proteção solar (€41,2/40ml); sérum firmeza (€50,4/30ml); creme caxemira (€43,7/50ml); e bálsamo contorno de olhos (€38,6/15ml)

Creme tisana de noite (€€43,7/50ml); fluído caxemira com proteção solar (€41,2/40ml); sérum firmeza (€50,4/30ml); creme caxemira (€43,7/50ml); e bálsamo contorno de olhos (€38,6/15ml)

D.R.

Foto2- Creme tisana de noite (€€43,7/50ml); fluído caxemira com proteção solar (€41,2/40ml); sérum firmeza (€50,4/30ml); creme caxemira (€43,7/50ml); e bálsamo contorno de olhos (€38,6/15ml)

Em Portugal, a linha Resveratrol-Lift é a mais vendida e identificativa, segundo Madalena Gusmão, diretora-geral da Caudalie Portugal. Esta farmacêutica – com especialidade em anti-envelhecimento e cosmética (mais uma formação posterior em substâncias ativas, nos Estados Unidos) – tem o primeiro contacto com a marca francesa em 2002. É o ano em que a Caudalie chega a Portugal através da Polimaia, que na época faz a distribuição a nível nacional e onde Madalena Gusmão trabalha. Não é de estranhar que, por isto, quando Mathilde e Bertrand Thomas optam por atuar diretamente no país, é ela a escolhida para ficar na liderança do negócio.

Antes de somar a segunda patente com a Universidade de Harvard, em 2020, a Caudalie percorre um caminho de 27 anos, feito de passos no sentido da afirmação enquanto marca eficaz, natural e sustentável. Os três primeiros três produtos postos à venda (em 1995 nas farmácias de Bordéus) são sucedidos pelo lançamento da Eau de Beauté, em 1997, uma bruma à base de óleos naturais (vaporizável e multifunções), que fixa a maquilhagem, tonifica e ilumina a pele. Inspirada no elixir da juventude da rainha da Hungria, no século 16, acaba por ser adotada por celebridades (como Victoria Beckham) e maquilhadoras, que a vaporizam no rosto das modelos, antes dos desfiles de moda. Neste mesmo ano, em 1997, dá-se a obtenção da patente de estabilização do resveratrol e, dois anos depois, é inaugurado o primeiro spa de vinoterapia, na propriedade em Bordéus de onde são originários os ingredientes da marca (em Portugal, o único spa Caudalie encontra-se no hotel The Yeatman).

As vinhas no Chatêaux Smith Haut Lafitte, na região de Bordéus, dão mais do que vinho

As vinhas no Chatêaux Smith Haut Lafitte, na região de Bordéus, dão mais do que vinho

D.R.

Em 2001, a importância do resveratrol extraído dos cepos das videiras é reforçada, com a obtenção de uma segunda patente que confirma a sua eficácia anti-envelhecimento. A explicação? As videiras produzem resveratrol naturalmente, como forma de defesa e regeneração, o que lhes permite sobreviver durante mais de 100 anos. A exploração dos galhos que são cortados durante a época de poda não se fica por aqui. A seiva segregada tem uma molécula que ajuda a apagar as manchas da pele, a viniferina, que é identificada e patenteada em 2005 por Joseph Vercauteren, o professor da Faculdade de Farmácia de Bordéus, com quem a Caudalie começa.

Os anos que seguem são de definição de uma carta de princípios, a ‘Cosm-ética’, que orienta o desenvolvimento de fórmulas o mais naturais possível; de lançamento do Premier Cru (linha de cremes que reúne as três patentes exclusivas); e de integração na organização 1% For the Planet, com o consequente compromisso de destinar 1% do total das vendas da Caudalie a projetos de reflorestação do planeta. Em 2018 é posta à venda a primeira versão da gama Resveratrol-Lift, já com o ‘guru da longevidade’ David Sinclair, e surge uma nova patente: a Vinergy, com uma molécula que combate o envelhecimento cutâneo. Em 2020, a Caudalie prossegue com a reinvenção do Resveratrol-Lift, que dá o mote a esta crónica, e a busca da eficácia e da responsabilidade ecológica. Haja vinhas no Chatêaux Smith Haut Lafitte que deem mais do que vinho.

Continue a ler este artigo no Expresso.


por

Etiquetas: