Portugal sofre de um crónico défice da balança alimentar. A balança comercial do complexo agrícola e pecuário apresenta um saldo negativo, em termos médios, superior a 1.800 milhões de euros. Excetuando os sectores do vinho, do azeite e do leite, Portugal está dependente das importações de cereais, carnes, animais vivos, frutas e produtos hortícolas para fazer face às necessidades do consumo interno.
A produção nacional é insuficiente para a satisfação das necessidades do consumo interno e, nem mesmo com uma nova “Campanha do trigo”, agronomicamente indefensável em muitos territórios, seria possível superar tamanha vulnerabilidade. No entanto, é possível, e de modo ambientalmente sustentável, produzir mais e utilizar melhor os recursos disponíveis em sectores onde somos deficitários e noutros onde já demonstrámos conseguir ter diversas vantagens competitivas, proporcionando algum equilíbrio, em valor, da balança comercial.
As previsões do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais da ONU apontam que a população mundial pode atingir no final do século, cerca de 11 mil milhões de pessoas, podendo já em 2050 atingir os 9,7 mil milhões, ou seja, nos próximos 30 anos teremos no mundo mais 2 mil milhões de pessoas. Naturalmente, em consequência deste aumento também a área disponível para a agricultura tenderá a ser menor.
Para além das questões relacionadas com o aumento da população, temos ainda que prever efeitos negativos na produção causados pelas alterações climáticas, por alterações conjunturais dos custos com a energia, pelo aumento do custo da mão-de-obra, e também pelos custos decorrentes das mais ou menos acertadas decisões políticas, onde se insere e destaca o recente Pacto Ecológico Europeu (Green deal), com a Estratégia do Prado ao Prato (Farm to fork) e a Estratégia de Biodiversidade para 2030, com impactos diretos na produtividade da agricultura.
Com todos aqueles perigos é urgente que se produza mais, é urgente ser-se competitivo e é fundamental fazê-lo de modo ambientalmente sustentável para a preservação dos recursos naturais.