Os políticos abandonaram os produtores de leite! É isso que sentimos todos os dias e por isso colocámos simbolicamente uma manada de vacas na rotunda do Marquês de Pombal em Lisboa. Sentimo-nos abandonados pelos principais dirigentes políticos quando sofremos a maior crise de que há memória. A agricultura é esquecida por estar longe de Lisboa e ter pouco votos, mas é a agricultura que alimenta todos os que votam e são eleitos.
Sofremos enormes prejuízos ao longo do ano que passou devido aos brutais aumentos dos custos de alimentação para as vacas, apenas minimizados por um aumento do preço do leite insuficiente para o custo de produção. Entramos em 2022 com novos aumentos de custos com rações, energia, adubos e outros fatores de produção. Aumentos de custos na ordem dos 30%, com alguns produtos a dobrar o preço de custo, como é o caso dos fertilizantes. Iniciámos 2022 com um custo de produção acima de 40 cêntimos por litro e não sabemos onde isto vai parar.
O primeiro-ministro, a ministra da agricultura e a generalidade dos políticos ficam em silêncio quanto à produção de leite, a agricultura e o mundo rural desaparecem. O Plano Estratégico da PAC, apresentado a 30 de dezembro de 2021, ignora as dificuldades deste setor optando por medidas públicas que claramente prejudicam os produtores de leite, como é o caso da convergência a 100% que reduz as ajudas ao rendimento deste setor em mais de 50%, de um pagamento ligado ao milho silagem que é metade da ajuda ao milho grão, e eco-regimes com orçamento insuficiente para o desafio que nos é pedido por Bruxelas. Sem esses apoios o preço do leite tem que aumentar. Em cada ano abandonam o setor leiteiro cerca de 200 produtores. A este ritmo a produção de leite em Portugal vai desaparecer em poucos anos.
É urgente que os políticos tenham uma palavra de solidariedade para os agricultores, que estudem os dossiers e venham ao terreno visitar vacarias e reunir com os agricultores. É urgente que tenham uma palavra forte junto da indústria e distribuição para um aumento imediato do preço base a pagar ao produtor para acompanhar os custos de produção e o preço médio comunitário, que ultrapassou em dezembro 41 cêntimos por litro de leite, mais de 7 cêntimos acima do preço médio em Portugal.
É essencial que o novo Governo seja capaz de criar rapidamente um observatório dos custos de produção e um mecanismo capaz de atualizar os contratos e indexar o preço do leite a esses custos e ao preço comunitário, sem que seja preciso os agricultores estarem constantemente a manifestar-se deixando o seu trabalho para colocar vacas ou tratores em Lisboa. Se os políticos não assumirem as suas responsabilidades, irá desaparecer a produção de leite em Portugal, ficarão apenas as vacas em cartão e virá também de fora o leite já embalado em cartão para os que o puderem pagar. É urgente um PREÇO JUSTO PARA O LEITE!