O associativismo na agricultura é considerado, unanimemente, algo que permite reforçar a capacidade competitiva dos agricultores e das empresas agrícolas através da partilha de conhecimento, de recursos, de riscos e de oportunidades e assim reforçar a capacidade de intervenção, enquanto profissionais agrícolas, na sociedade. Ao mesmo tempo, através do associativismo, é possível que agricultores e empresários rurais consigam ter maior representação, promoção e defesa dos seus interesses.
Hoje, mais do que nunca, reconhecemos a importância do associativismo no setor e, se tivermos em conta que o rejuvenescimento do tecido social e profissional é uma condição indispensável para a sustentabilidade do setor agrícola e que essa sustentabilidade não está assegurada na medida em que a renovação geracional dos agricultores portugueses se tem vindo a deteriorar de forma continuada, em muito por culpa de sermos um país com uma população cada vez mais envelhecida, o associativismo jovem ainda maior importância tem.
Devido às circunstâncias da vida, ou talvez puramente à sorte, entrei numa das maiores associações estudantis de agricultura no mundo e, logo no ano seguinte, sou eleito como representante máximo no nosso país. De um momento para o outro, e literalmente sem ter muita vontade disso, vi-me com a responsabilidade de representar e dar voz a mais de 500 sócios e 8 comités locais em Portugal.
Não tinha experiência e havia formado uma lista de pessoas relativamente inexperientes, porém tínhamos todos uma coisa em comum: uma enorme vontade de trabalhar e aprender com os nossos erros. Assim foi, sem receio do que estava por vir e confiantes com o desafio a que nos havíamos proposto, começámos com um percalço que nos motivou para trabalhar ainda mais: um enorme falhanço em que analisámos o que fizemos de errado e tentámos evitar cometer os mesmos erros de futuro.
Posteriormente começou a melhor das experiências que poderíamos ter: tivemos a oportunidade de visitar vários países à boleia dos encontros internacionais a que fomos.
Primeiramente, é óbvio que o facto de contactar com estudantes da mesma área que a nossa, mas de outros países é extremamente importante – até porque o conhecimento do setor não pode, nem deve, ser partilhado exclusivamente numa ótica nacional – porém uma coisa é certa, quando a tudo isso se alia a possibilidade de visitar empresas agrícolas noutros continentes e melhor conhecer a sua realidade profissional, a vivência é muito melhor e sobretudo mais intensa.
Foi especialmente gratificante e enriquecedor conhecer a realidade do sector primário dos países da América Central e do Sul, pela diversidade do que produzem e muitas vezes também pelos rendimentos, devido à extrema fertilidade dos solos. Poder ver na primeira pessoa culturas exóticas para o nosso país, como o café, cacau, banana e ananás por exemplo, é uma das melhores experiências que já tive.
Embora estejamos tão distantes geograficamente, partilhamos um fio condutor: a cultura, muito semelhante à nossa. Muitos dos problemas que têm são muito semelhantes aos nossos, no entanto em alguns países foi possível observar que possuem uma capacidade de mobilização dos agricultores bem superior à nossa, o que nos deixa a pensar: o que falha em Portugal e o que se pode fazer, enquanto jovens para que isso mude?
A importância de os jovens que estudam ciências agrárias prende-se especialmente com a necessidade do despertar para as necessidades e problemas que atravessamos, de nos começarmos a juntar e tentar combater um dos maiores problemas da nossa agricultura: a falta de união. Isto poderá parecer um discurso politizado, mas não o é, o que pretendo transmitir é que nos falta um grande sentido comum e especialmente que muitas vezes nos esquecemos que juntos somos mais fortes.
Basta vermos que, após uma rápida pesquisa na internet, há um dado que salta à vista: a quantidade de associações de agricultores que existem em Portugal. Parece que andamos todos a “remar” em vários sentidos, que não somos capazes de, sentados à volta de uma mesa, alcançar uma opinião unânime e uma voz uníssona. O que se revela problemático junto de um governo, pois acabam por não saber o que é que o sector afinal pretende – cada um tem uma opinião distinta e pede uma coisa diferente. Ganharíamos poder, relevância e reconhecimento, sendo que conseguiríamos mais facilmente aumentar os perímetros de rega de uma dada área, possibilitar a construção de novas barragens, impulsionar uma investigação agrária como já não se faz há, pelo menos, mais de 30 anos e até assegurar melhores preços de venda junto do grande retalho.
Acaba por ser um problema complexo e de difícil resolução, mas um dos caminhos que podemos e devemos seguir é a incorporação de jovens na agricultura, com uma visão diferente, mais dinamismo – algo que é intrínseco à tenra idade – e que entendam a necessidade da cooperação entre todos e que quando trabalhamos juntos geralmente consegue-se alcançar resultados mais promissores, mas sobretudo com um consenso mais abrangente.
Nós, os maios novos, temos um papel fundamental para o futuro. Seremos nós os próximos agricultores, empresários e gestores agrícolas portugueses, tendo tantos desafios pela frente certamente não teremos especial interesse em criar mais divisões internas nem fragmentar ainda mais o sector, teremos que optar mais vezes pela cooperação, união e trabalho em equipa.
Acredito que as associações de estudantes de agricultura são óptimas rampas de lançamento para outras visões do mundo e novas formas de entender como as coisas devem ser feitas, pelo que já vi até hoje, o nosso país tem jovens promessas incríveis e que têm uma voz apaziguadora, um discurso coerente e capaz de juntar muitas vezes profissionais que anteriormente não se juntariam.
Há que ter esperança no futuro, acreditar nos jovens, dar-lhes oportunidades, espaço, liberdade criativa e de pensamento e uma ponta de fé, pois somos muito mais capazes do que muitos acreditam. Cairemos, mas por outro lado também nos levantaremos mais fortes, temos é que, como todos os outros que vieram antes de nós, ter uma oportunidade.
Diretor Nacional da IAAS Portugal