Câmara de Ovar atribui polémica em pinhal dunar a “falta de conhecimento ou más intenções”

O presidente da Câmara de Ovar defendeu hoje, em conferência de imprensa, que a recente polémica relativa ao abate de pinheiros no perímetro dunar desse concelho do distrito de Aveiro se deve a “falta de informação ou más intenções”.

Foi esse o argumento de Salvador Malheiro numa sessão em que se fez acompanhar por um responsável do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e pelos presidentes das quatro juntas de freguesia que, à semelhança do Município, também detêm terrenos na mancha verde para a qual o corte de 247 dos seus 2.584 hectares foi anunciado em 2016, mas só gerou alarme em janeiro deste ano, após o desbaste total de parcelas em pontos mais visíveis ao público.

“Sendo o abate de pinhal adulto o que está a causar polémica, por falta de conhecimento de alguns e más intenções de outros, importa esclarecer que a área de 247 hectares, a cortar em 10 anos, corresponde a menos de 1% de todo o perímetro florestal das dunas de Ovar”, disse o presidente o Câmara.

Realçando que cabe ao ICNF (e, por inerência, ao Ministério do Ambiente) a gestão do “pulmão verde” que representa 17% do concelho e aí existe há cerca de 100 anos, o autarca social-democrata declarou que o desbaste é justificado e está entregue aos técnicos certos: “O ICNF é o organismo que mais sabe de floresta em Portugal (…) e nós acreditamos na instituição”.

Salvador Malheiro notou, aliás, que “cortes análogos, seguidos de reflorestação natural, foram acontecendo no passado, com frequência, e estão na origem da boa gestão da mata atual” – que aponta como “a primeira grande floresta consolidada, bem cuidada e bem gerida” a Sul do Porto, na faixa litoral.

Entre as principais “razões técnico-científicas” para o abate – que deverá estender-se para além do prazo inicial de 2026, dada a dilação das metas definidas para os primeiros dos 10 anos de intervenção – inclui-se a de que a idade média dos pinheiros a cortar é de 70 anos, quando já se encontram “resinados, decrépitos, mortos ou sem capacidade de sequestrar dióxido de carbono”.

Garantindo que “os talhões com maior proximidade ao mar” serão excluídos da operação, Salvador Malheiro acrescentou: “O que está previsto no Plano de Gestão Florestal não é nenhum abate massivo com objetivos de especulação imobiliária. Na atual floresta vai continuar a existir no futuro apenas e só floresta”.

Nuno Sequeira, do ICNF, salientou, por sua vez, que o corte de pinheiros adultos é essencial para a manutenção de uma floresta saudável, porque as árvores com idades entre os 61 e os 80 anos representam vários riscos para os exemplares mais jovens, por serem mais suscetíveis a pragas e doenças, e evidenciarem menor resistência mecânica a ventos e outros elementos.

“Não fazer nada, não cortar o arvoredo, ia resultar em árvores caducas, que iam morrer com pragas e doenças”, defendeu, recorrendo a uma analogia com que a população geral estará mais familiarizada: “Se não cuidarmos de um jardim, eles transforma-se em algo que não desejamos”.

Questionado depois sobre o facto de o ICNF ter optado pela reflorestação espontânea, Nuno Sequeira disse que essa estratégia é a tecnicamente mais aconselhada para a zona, dado o grau de eficácia da sementeira natural do pinheiro-bravo. O perímetro dunar de Ovar integra, inclusivamente, “o catálogo nacional para recolha de sementes”, pelo que “não faz sentido importar árvores [para plantação], mesmo que certificadas”, quando a área a regenerar dispõe das árvores “mais bem adaptadas ao local” e de solos “com um forte banco de sementes”.

Essa opção pela reflorestação natural não invalida, contudo, a necessidade de monitorizar o crescimento dos novos pinheiros, o que Nuno Sequeira admite ser indissociável do combate à propagação de espécies como as acácias. Por isso mesmo, repetiu em Ovar o que o ICNF já anunciara em comunicado uma hora antes da conferência de imprensa: “No quadro das várias intervenções previstas no Plano de Gestão Florestal [para as dunas de Ovar], encontra-se já em fase final de contratação o controlo de invasoras lenhosas em 1.102 hectares, para reabilitação de habitats, redução do perigo de incêndio rural, promoção da diversidade ecológica e valorização da paisagem”.

O mesmo técnico do ICNF delegou depois em Sérgio Vicente, presidente da Junta de Freguesia de Cortegaça, a resposta quanto aos prazos estimados para recuperação da paisagem. Com base no exemplo local de uma parcela de pinhal cortada em 2012, o autarca espera que, ao fim de 10 anos, também as zonas a desbastar entre Esmoriz e o Torrão do Lameiro se apresentem “com pinheiros de 2,5 a 3 metros de altura”.

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