Edição genética | Brasil desenvolve a primeira cana-de-açúcar com CRISPR

Cientistas da Embrapa Agroenergia usaram o sistema CRISPR para desenvolver as primeiras variedades de cana-de-açúcar geneticamente editadas do mundo. A cana-de-açúcar Flex I e a cana-de-açúcar Flex II são consideradas não transgénicas, conforme resolução da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança.

Desenvolvidas por investigadores da empresa brasileira de investigação agropecuária (Embrapa Agroenergia), as variedades de cana-de-açúcar Flex I e II apresentam, respectivamente, uma maior digestibilidade da parede celular e uma maior concentração de sacarose nos tecidos vegetais. Segundo os cientistas, estas variedades respondem a um dos maiores desafios do setor: ampliar o acesso das enzimas aos açúcares armazenados nas células, que facilitam a produção de etanol (primeira e segunda geração) e a extração de outros bioprodutos.
“Uma vez identificada essa característica de acumulação de açúcar na planta modelo, transferimos esse conhecimento para a cultura da cana-de-açúcar, que é o alvo da nossa investigação. Observámos um aumento de cerca de 15% na sacarose no colmo da cana e noutros açúcares, como glicose e frutose, tanto no caldo como no tecido vegetal fresco”, explica o investigador da Embrapa Hugo Molinari.

A equipa também observou um aumento de 200% no açúcar nas folhas da cana. “Realizamos testes para ver se o gene afetava a melhoria da sacarificação, que é a conversão da celulose em açúcar industrial, e observámos um aumento de cerca de 12%”, acrescentou o investigador.
Estas variedades de cana-de-açúcar geneticamente editadas apresentam três grandes vantagens: aumentam a eficiência na produção de bioetanol, são mais adequadas ao processamento industrial e permitem obter bagaços com maior digestibilidade para uso na alimentação animal.

Segundo o cientista da Embrapa, embora os OGM – Organismos Geneticamente Modificados continuem a ser uma importante estratégia para solucionar inúmeros problemas na agricultura, as técnicas de edição genética, como o CRISPR, permitem uma manipulação do DNA mais precisa, mais rápida e mais barata.

“A tecnologia CRISPR permitiu uma democratização do uso da biotecnologia na agricultura, não só porque mais empresas e instituições participam do desenvolvimento de produtos que chegam ao mercado, mas também porque mais culturas de interesse podem ser beneficiadas”, explicou Molinari.

De acordo com o vice-diretor de Investigação e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, Bruno Laviola, as novas variedades de cana-de-açúcar geneticamente editadas com CRISPR são um marco na fronteira do conhecimento: “São apenas o começo e abrem caminho para o desenvolvimento de outras variedades com características que terão impactos diretos na produtividade da cana-de-açúcar e na redução dos custos de produção.”

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O artigo foi publicado originalmente em CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.


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