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Seca inédita em Marrocos deixa agricultores e criadores de gado em situação grave

A falta de chuva este outono e inverno e a quebra inédita de reservas de água levou os peritos marroquinos a alertar para uma das piores secas que Marrocos enfrenta em três décadas, situação “muito grave” para a agricultura.

O anticiclone que atinge atualmente países do Mediterrâneo como Espanha e Portugal está a atrasar a precipitação em Marrocos, o que põe em perigo a campanha agrícola no país.

“Já estão condenadas este ano a produção de cereais e de leguminosas”, disse à EFE o engenheiro agrónomo marroquino Abdelmoumen Guennouni.

Marrocos enfrenta uma das secas mais graves das últimas décadas, segundo o engenheiro agrónomo, que destaca que a falta de chuva neste período coincide com os baixos níveis de reservatórios de água no país e a sobre-exploração dos aquíferos.

Tal como Guennouni, vários peritos e profissionais do setor agrícola ouvidos pela EFE expressaram o seu pessimismo perante a atual seca, alertando que as alterações climáticas agravam o problema.

O ministro do Equipamento e Água, Nizar Baraka, alertou para o “grande retrocesso” de recursos hídricos em reservatório, um problema que classificou de “estrutural”.

Baraka disse na semana passada que os reservatórios do país estão em níveis mínimos, não superando os 33,9%, contra 62% registados em 2018.

Entretanto, a precipitação acumulada entre setembro e janeiro passado situou-se em 38,8 mm, menos 53% do que na temporada anterior.

A situação é tal que o rei Mohamed VI, na sua qualidade de comendador dos crentes (autoridade religiosa máxima do país) ordenou a celebração no passado dia 04 de fevereiro de orações especiais em todas as mesquitas para pedir chuva.

“Dependemos da clemência de Alá”, é o que repetem agricultores e ganadeiros ouvidos pela EFE, todos preocupados com o caráter inédito da seca deste ano.

Um deles é Abderrahim Zrouti, que cultivou 300 hectares de trigo, mas perdeu toda a esperança de que haja produção este ano.

A partir do seu terreno na localidade rural Sidi Yahya Zaer, nas imediações de Rabat, Zrouti mostra as plantas numa etapa inicial de maturação, com a espiga ainda dentro da planta. Nesta altura do ano o trigo já deveria ser muito mais alto e as espigas deviam aparecer e bem formadas.

“Dezembro e janeiro são determinantes para o cultivo do trigo, mas este ano como não choveu não haverá produção, esperamos perdas de 80%”, lamenta Zrouti, sublinhando que estas plantas de trigo apenas servirão para pasto.

Zrouti cultiva o trigo em terras de sequeiro, como a maioria dos que se dedicam à produção de cereais, que constitui a principal componente da agricultura marroquina em relação a superfície cultivada.

O mesmo se regista em todas as regiões: “Está tudo seco”, alertou um agricultor espanhol que produz em todo o país de Marrocos.

“Em Berkane, por exemplo (noroeste), vários agricultores estão a abandonar os seus pomares de laranjas, porque não há água ou pela má qualidade e alto nível de salinidade dos recursos hídricos dos poços e canais”, disse o agricultor espanhol à EFE.

Na mesma situação encontram-se os criadores de gado, que criticam os altos preços da forragem. O saco de cevada passou de 230 dirhams (cerca de 21 euros) a 450 dirhams (42 euros), segundo explicou um profissional do setor.

A escassez é tal que muitos não têm outro remédio senão desfazer-se do seu modo de vida: “Conheço criadores de gado que estão a vender o seu rebanho porque não podem aguentar mais as perdas”, disse Guennouni.


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