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Ucrânia: Invasão russa ameaça as exportações de um grande vendedor de cereais

Trigo, milho, girassol… A invasão russa da Ucrânia pode comprometer as exportações de um dos principais vendedores de cereais e complicar a vida a numerosos países importadores, alertou o dirigente de um clube de reflexão sobre agricultura.

O alerta foi feito, à AFP, durante uma mini-entrevista, por Sébastien Abis, diretor-geral do Demeter, investigador associado do Instituto de Relações Estratégicas e Internacionais (IRIS) e autor da obra “Géopolitique du blé” (Geopolítica do Trigo) (2015).

Questionado se a invasão russa pode comprometer a segurança alimentar mundial, Abis salientou que “os primeiros afetados são os ucranianos”, uma vez que “qualquer teatro de guerra tem consequências imediatas para a vida quotidiana”.

Depois, “importa lembrar que a Ucrânia é uma grande potência produtora de trigo, milho, girassol, também um pouco de soja, muita colza, cevada,… As suas produções alimentam o mercado mundial porque a Ucrânia tem necessidades internas limitadas, portanto tem volumes importantes para exportar”.

Por exemplo, “a Ucrânia é 12% das exportações mundiais de trigo, quase 20% de milho, 20% em colza. Em girassol é metade da exportação mundial! Portanto, tudo isto vai acrescentar nervosismo, mesmo muito nervosismo, nos mercados agrícolas”.

Mais a mais, reforçou, esta crise acontece “quando os preços já estavam extremamente elevados, devido à volatilidade dos últimos meses” e antecipou que vai haver impactos sobre os preços médios, porque não há muitas alternativas em termos de origem, pelo que muitos países importadores vão ficar fragilizados”.

Abis admitiu que esta fragilidade signifique penúrias nos países importadores: “Será que os volumes ucranianos que estavam por exportar de milho e trigo vão poder sair? Em trigo trata-se de nove milhões de toneladas e em milho seis milhões a sete milhões”.

Ora, prosseguiu, “se os portos estão destruídos, se a circulação, o transporte logístico não está autorizado, pode haver quebras. Tudo isto vai evidentemente ter um impacto sobre a estabilidade dos aprovisionamentos agrícolas mundiais, os preços”.

Por outro lado, avisou, “não se podem esquecer os fertilizantes, porque a Rússia produz muito amoníaco e ureia, tal como a Ucrânia”. Ora, como os preços destes produtos “já estão muito elevados”, Abis antecipou a existência de “consequências não negligenciáveis nos custos destes fatores de produção indispensáveis à atividade agrícola”.

Por junto, sintetizou, trata-se de saber “até onde é que os países vão poder pagar muito cara uma alimentação que já é cara”.

E admitiu “que podem haver consequências em alguns países onde o aspeto socioeconómico já está à flor da pele no que respeita ao preço da alimentação”.

Por exemplo, disse, “o Egito recebe 90% do seu trigo da Federação Russa e da Ucrânia. Claro que vê de muito perto a subida dos preços e o que isso pode significar para o seu mercado interior”.

Neste contexto, põe-se a questão da eventual ajuda de emergência a países como Líbano e Egito por parte de EUA e França.

O analista avançou que “sempre houve stocks de segurança, cujos volumes são desconhecidos, mas que, no curto prazo, poderiam ser usados”.

Mas a grande questão, sublinhou, é a de saber “se a situação se mantiver e agravar, se amanhã a Ucrânia não produzir e não puder exportar, quem é que a vai substituir?”


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