José Martino

Seca – Como salvar as Culturas de Sequeiro?

Regadio atual e planeado a 10 anos não é a solução.

A seca define-se como um fenómeno climático causado pela insuficiência de precipitação pluviométrica, chuva, neve ou granizo, numa determinada região por um período de tempo muito longo, a qual, tem como consequências a baixa de humidade nos solos, abaixamento dos níveis freáticos, falta de água para as plantas viverem, causando forte stress hídrico na vegetação ou mesmo a sua morte.

A seca é um fenómeno natural que existe em Portugal há pelo menos cem anos e que se está a acentuar nas últimas décadas devido às alterações climáticas.

As alterações climáticas fazem-se sentir com o incremento da temperatura média, maior degradação da matéria orgânica do solo, diminuição da retenção de água pelo solo, ao mesmo tempo que há diminuição da precipitação e ocorre a sua concentração temporal, menor número de vezes e regime torrencial de cada vez, forte precipitação em pouco tempo.

Estes dois fenómenos simultâneos obrigam à encontrarem-se soluções técnicas para reter a água, paralelamente é preciso melhorar a sua infiltração no solo, alimentar os ecossistemas e encontrar os meios mais adequados para praticar a rega deficitária (regar nos momentos críticos da fisiologia da planta para não a deixar morrer por desidratação).

Nalguns casos, onde exista potencial, sobretudo nos rios nacionais poderão ser construídas novas barragens, tendo sempre o cuidado de minimizar os respetivos impactos ambientais.

O sequeiro, cultura em terreno que não é regado ocupa pelo menos 80% da superfície agrícola útil (SAU) de Portugal Continental (SAU=+/- 3,7 M ha), culturas estas que se desenvolvem no outono, inverno e primavera, mais que tudo tirando partido das precipitações.

Neste caso, os efeitos da seca têm que ser acautelados ao nível de retenção da água através de técnicas da engenharia natural para salvar os ecossistemas e o sequeiro agrícola e nalguns casos, servirá para controlar o avanço do deserto em zonas do interior de Portugal Continental.

O regadio é o sistema de produção agrícola em que as culturas são sujeitas a rega. Esta serve para suprir as necessidades fisiológicas hídricas das plantas durante o estio, porque neste caso existe água armazenada proveniente de precipitações invernais ou durante a época seca, é extraída do subsolo ou linhas de água, ou brota de nascentes.

A superfície das culturas a irrigar deve ser planeada em função da água armazenada ou do potencial de extração, caso contrário, haverá ruturas do seu abastecimento no pico das necessidades da cultura ou no final da época, período temporal em que as condições climáticas ainda obrigam a regar. Além disso, há que controlar a qualidade da água, pois há plantas mais ou menos sensíveis ao nível de sais dissolvidos na água, enquanto o teor de sais não passar determinado nível elevado para o excessivo, caso a água tenha este último nível de salinidade, as plantas morrem, porque não conseguem absorver a água que necessitam para viver.

Retenho de memória que há pelo menos 30 anos que existem esporadicamente ajudas financeiras públicas aos prejuízos da seca decorrentes do fenómeno se fazer sentir em determinados anos com maior intensidade, isto significa que este problema não é recente, pelo que, atualmente não se deveria depender de estratégias temporárias, remediativas pontuais, imediatistas, que terminam as suas ações logo que a precipitação normaliza a água no solo, subsolo e cursos de água. Os efeitos da seca causam prejuízos quando retorna porque os diversos governos não tiveram visão de futuro, as alterações climáticas vieram para ficar, não aplicaram políticas de longo prazo para minimizar os seus impactos.

Lamento que mesmo passados estes anos todos existam em Portugal políticos altamente responsáveis que se atrevem a dizer na televisão que a seca em Portugal se resolve com mais regadios como se fez no Alqueva, como se tal fosse possível!

Lembro que mesmo com este maior regadio de Portugal, o país tem cerca de 20% de superfície agrícola útil irrigável face à SAU. Mais, o Plano de Regadio 2030 só prevê regar mais 174 000 ha (+/-4,6% da SAU).

Por tudo isto, fica aqui registado o meu grito de alerte, é preciso mudar de paradigma e criar soluções de retenção de água para estas agriculturas de sequeiro, as quais, não passam pelo regadio no sentido em que ele existe hoje e nas que soluções que estão na atualidade planeadas para os próximos 10 anos.

José Martino

Cidadão, Lutador pelo Desenvolvimento de Portugal

Carta aberta a António Costa – resposta de um agente do mundo rural


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