Vasco Sevinate Pinto

Água como união de dois Mundos

Na manhã, de 22 de fevereiro de 2022, ouvi na rádio a seguinte frase: “hoje vamos ter mais um belo dia de Primavera…” Bolas, mas alguém pode dizer às pessoas que estamos no Inverno e que é suposto chover no Inverno? Sendo que quando não chove quando devia chover, é mau?

Vivemos claramente num país com duas realidades diferentes: os centros urbanos, onde se sabe tudo e sobre tudo se opina, onde temos tudo à nossa disposição, conforto, comida, água…, e o mundo rural, onde se praticam as maiores atrocidades ao ambiente, onde se produz comida nessa coisa horrível que se chama agricultura, onde se armazena água que depois evapora…

Este período dramático de seca que vivemos deveria aproximar estes dois mundos. A água, como bem valioso que é, deveria servir para a uma só voz nos insurgirmos contra a incompetência dos nossos governantes, contra a incapacidade destes de pensar a longo prazo para assumir reformas estruturais importantes para o País. A uma só voz, deveríamos exigir definitivamente um PLANO NACIONAL PARA A ÁGUA onde fosse criada mais área de armazenamento, onde fosse planificada uma rede de canais/ligações em que conseguíssemos fazer chegar a água a todo o Pais, em que se limitassem ao máximo as perdas deste tão valioso recurso.

Não será nunca criticando a sua utilização na agricultura ou acusando quem toma banho duas vezes por dia que resolvemos o problema das secas.

Não será criando medidas avulso e à pressa para apoiar os mais prejudicados pela seca que resolvemos o problema.

Podemos resolver no muito curto prazo e quando vier a próxima seca? Voltamos a dar dinheiro aos mais prejudicados? Tornando-os cada vez mais dependentes destes apoios?

A seca só pode ser combatida preventivamente, armazenando água nos períodos de chuva para a podermos usar nos períodos de seca. Temos que nos preparar para a seca nos períodos de não seca para quando ela vier conseguirmos manter todas as nossas atividades.

Foram anunciadas as primeiras medidas de apoio aos agricultores, com grande entusiasmo li que uma das medidas é:

  • Estudar medidas específicas que visem compensar os agricultores pela situação de seca, no âmbito da Organização Comum de Mercados de produtos agrícolas;

Cheira-me a uma task force que quando chegarem a uma conclusão já teremos novamente chuva e assim o problema resolvido por mais 3-4 anos, até à próxima seca…

Com satisfação li nalguns programas eleitorais que o Plano Nacional do Regadio seria uma prioridade, mesmo em novos partidos como a Iniciativa Liberal esse tema tem destaque. Falta pôr mãos á obra, a importância de um PNR bem estruturado e implementado não servirá só os agricultores, servirá a toda a população, disponibilizando água para todos, comida para todos (esta é produzida pela agricultura, para que fique claro.), energia, etc… Vamos a isso!

Vasco Sevinate Pinto

Engenheiro Agrónomo


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