“Portugal depende brutalmente da importação de cereais para o fabrico do pão”, avisa o presidente da CAP. Mas os aumentos em curso alargam-se a outros produtos. Incluindo as gasolinas, que devem continuar a subir
Desde o início da invasão russa na Ucrânia o preço do trigo nos mercados internacionais aumentou cerca de 30%. A 24 de fevereiro o mercado fechou a 316 euros por tonelada, indicador que estava a ser negociado por volta dos 445 euros esta quarta-feira. Se antes da guerra os preços eram elevados, a ofensiva fez disparar ainda mais os preços. Como consequências, espera-se um aumento generalizado dos preços, a começar pelo pão.
É que, em conjunto, Ucrânia e Rússia representam cerca de 30% do mercado global de cereais, entre os quais está, com grande predominância, o trigo. A falta de produção na Ucrânia e as ameaças de interrupção do comércio internacional da Rússia fazem com que o resto do mundo arrisque uma maior escassez do bem, o que leva à subida dos preços.
Os dois países até têm cereais de campanhas anteriores, mas os fortes constrangimentos dificultam a exportação. Por um lado, a Ucrânia vê os seus principais portos condicionados – é em Mariupol que decorre uma das grandes batalhas e Odessa está sob ameaça russa, o que motivou o governo ucraniano a encerrar todos os acessos ao mar. Por outro lado, o país deixou de ter escalas de navios de carga e passageiros. Já do lado russo, as fortes sanções impostas pelo Ocidente inviabilizam este tipo de importações.
Para a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), a situação exige uma resposta conjunta da União Europeia. À CNN Portugal, Eduardo Oliveira e Sousa, presidente desta organização, diz que “a Europa tem de precaver-se para se abastecer onde ainda houver matéria-prima”.
“Portugal depende brutalmente da importação de cereais para o fabrico do pão”, nota.
“A subida do preço do pão é inevitável e evoluirá em linha com a flutuação dos preços dos cereais”. Quem o diz é o presidente do Conselho Fiscal da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação, Pastelaria e Similares (ACIP), Hélder Pires, em declarações à agência Lusa.
De acordo com a associação, já estão a verificar-se consequências ao nível da procura e alguns sinais de escassez de cereais, sendo que, no limite, “poderá questionar-se se se conseguirá garantir o abastecimento de cereais e, por extensão, de pão”.
Mas não é só o trigo a ter impacto em Portugal. Aliás, o cereal que Portugal mais importa da Ucrânia é milho, representando mais de 90% dos 152 milhões de euros pagos em 2021, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística. Aquele mercado foi responsável por 34,5% do milho importado por Portugal.
O milho não é utilizado apenas de forma direta, na alimentação: grande parte dos animais em Portugal são alimentados com aquele cereal. Por isso, um aumento do custo do milho pode significar um aumento do preço final da carne, do leite ou dos ovos. E se o preço já era elevado no início do ano, com a tonelada a custar 244 euros, o Euronext dá conta de que a mesma medida custava, na abertura dos mercados esta quarta-feira, mais de 384 euros.
Em comunicado, a Confederação Europeia dos Produtores de Milho garante que “não há risco de escassez para o abastecimento alimentar dos europeus”. Contudo, ressalva que são precisos apoios para o setor, uma vez que os produtores deparam-se com desequilíbrios económicos gerados pelo conflito.
A curto prazo, “existe um risco real de explosão dos custos de produção, dos preços dos fatores de produção (especialmente fertilizantes) e dos custos energéticos”, aponta aquela organização.
Já no caso do arroz, por exemplo, a CAP lembra a situação de seca, que obriga a uma maior utilização de energia, que “torna impraticável a prática da cultura”. […]