A presidente executiva do Pingo Doce afirmou hoje que o aumento do preço dos cereais “é de longe o maior”, sendo que as massas, óleos, rações e todos os produtos de origem animal são alvo de inflação.
Isabel Ferreira Pinto falava na conferência de imprensa `online` da Jerónimo Martins sobre os resultados do grupo em 2021, cujo lucro subiu 48,3% face a 2020, para 463 milhões de euros.
Questionada sobre se sente algum impacto na cadeia de abastecimento em Portugal, a responsável disse que para já não.
“Apesar dos impactos evidentes deste contexto de crise humanitário de guerra, não estamos a sentir ainda qualquer tipo de problemas no abastecimento às lojas, nem nos nossos centros logísticos, mas é impossível prever hoje em dia, vivemos momentos de grande incerteza”, afirmou a presidente executiva do Pingo Doce.
No que respeita à inflação nos produtos alimentares, “o incremento dos cereais é de longe o maior”, salientou.
No ano passado já tinha havido “uma grande inflação em todos os produtos que dependem direta ou indiretamente dos cereais”, embora as razões tivessem sido outras, explicou.
“As razões do ano passado foram outras, não têm a ver com a guerra na Ucrânia — sendo que a Rússia e a Ucrânia são dos maiores produtores de milho e trigo –“, mas sim com “a reposição dos `stocks` por parte da China, que há dois anos tinha tido uma crise suína”, pelo que tinha procurado animais vivos e não rações, disse.
Mas no ano passado procurou rações, o que fez com que a procura aumentasse, a par da seca na América do Sul.
“A guerra começou há duas semanas, começámos a receber novamente incremento neste tipo de produtos”, mas “ainda estamos em processos negociais e, portanto, não sabemos ao certo qual é que será” a subida final, disse a responsável.
“Sabemos é que de facto são grandes incrementos, há de afetar essencialmente as massas, os óleos, as rações, tudo o que vem do animal, nomeadamente o leite, a carne os ovos e o pão”, sublinhou.
“Agora, se o porto principal da Ucrânia for fechado, em termos de cereais vai haver falta porque repor não é fácil”, alertou o presidente da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos.
O grupo “Jerónimo Martins fez um anúncio muito claro esta manhã: que está preparado para mitigar e para poder equilibrar o que é que pode passar ao consumidor e o que é que vai ter de absorver (…) mesmo que isso implique alguma revisão, talvez de alguma lucratividade, e isso tem muito a ver com o que se vai passar nas próximas quatro semanas sobre os aumentos de custos”, salientou Pedro Soares dos Santos.
“Por exemplo, o óleo aumentou 60%, isto é de um impacto brutal na vida das famílias”, exemplificou o presidente da Jerónimo Martins, que reforçou que o grupo vai tentar absorver o que puder.
“Não vamos ficar com tudo e este é que vai ser o grande exercício das próximas quatro ou cinco semanas, porque vai haver realmente uma loucura em termos de tentativa de subida de preço e nós vamos ter que ter uma grande luta para travar”, salientou.
Pedro Soares dos Santos disse ainda que o aumento de preços generalizado é sentido em todos os três mercados onde o grupo está presente: Portugal, Polónia e Colômbia.
“A pressão quer na Colômbia, quer na Europa, é igual, é brutal, nos produtos mais importantes a pressão tem sido altíssima e nalguns produtos, então na Colômbia, como os ovos, o óleo, a farinha, tem sido também tudo na ordem acima dos 40% e, portanto, esta pressão que se passa na Europa é a mesma pressão que se está a passar na América Latina”, disse.
A subida dos preços “tem forte impacto nas famílias de baixos rendimentos” e as empresas “vão ter aqui um papel muito importante”, acrescentou, admitindo que haverá “alguma pressão e dificuldade” nas relações entre a distribuição e a produção.
“Entendemos que nem tudo pode passar para o consumidor, porque se não estamos a empobrecer o mundo de uma forma muito rápida, e empobrecer e aumentar a desigualdade é uma coisa muito perigosa no mundo em que vivemos hoje, portanto estas relações vão ser difíceis, vão ser negociações nada fáceis, mas que nós vamos ter de saber lidar”, asseverou.
Pedro Soares dos Santos deu o exemplo que ainda hoje o grupo teve de aumentar o preço do leite à produção, “mais uma vez”, defendendo que é preciso equilíbrio e bom senso.
“Vamos ter de saber distribuir, quer a distribuição, quer a produção, quer o consumidor, vai ter que entender que tem de haver aqui um balanço e claro depois há sempre um outro envolvido, que é o Governo, que depende muito do que vai querer fazer”, afirmou.
Por sua vez, Isabel Ferreira Pinto salientou que a inflação nos produtos alimentares tem acontecido ao longo dos anos.
“Nunca passei por momentos como estamos a passar hoje”, mas “o compromisso do Pingo Doce é continuar a ser o mesmo como foi até hoje, portanto temos de continuar a ter os preços mais baixos e as melhores promoções sempre à melhor qualidade e, obviamente, que as negociações são difíceis”, salientou a responsável.
Questionada sobre se a cadeia de supermercados vai aumentar as taxas de entrega, Isabel Ferreira Pinto disse que isso não está na mesa.
“O Pingo Doce não tem uma operação `online` interna, é uma parceria que temos com o Mercadão, nomeadamente com a Glovo — Mercadão foi adquirido agora pela Glovo — e não perspetivamos aumentos das entregas por este incremento do gasóleo”, disse.
“Para já não está em cima da mesa”, garantiu.
Sobre a possibilidade de aquisições, Pedro Soares dos Santos foi perentório: “Este ano é mais importante, nesta primeira fase, o apoio comunitário e humanitário à Polónia do que propriamente uma aquisição”.
Relativamente ao projeto de produção de salmão, o presidente da Jerónimo Martins disse que a tecnologia que tinha sido escolhida para desenvolver “falhou”, mas que agora está a apostar numa outra, esperando ter resultados no final do ano.
“Não desisti ainda do salmão”, garantiu o gestor.