Renaturalizar para conservar

Das florestas urbanas de Leipzig às ribeiras do concelho de Cascais, a renaturalização das paisagens como forma de conservação e promoção da biodiversidade tem vindo a ganhar popularidade e é aplicada tanto em reservas naturais como em meio urbano.

Criado na década de 1990 nos Estados Unidos da América, num contexto que incluía a criação de grandes espaços para a reintrodução de carnívoros, o conceito de renaturalização (“rewilding”, no original) atravessou o Atlântico e tornou-se popular na Europa, onde ganhou um sentido mais amplo. Das florestas urbanas de Leipzig às ribeiras do concelho de Cascais, passando pelas escarpas do Côa ou pelo projeto com que o Reino Unido se propõe requalificar 300 mil hectares de terreno, a renaturalização como forma de conservação da natureza e gestão da paisagem veio para ficar.

Em 2019, um grupo de cientistas – que incluiu o investigador português Henrique Miguel Pereira, da Universidade de Leipzig – publicou um artigo na revista Science no qual defendia a renaturalização como estratégia preferencial para a conservação. Depois de analisarem diferentes casos, concluíram que esta técnica é eficaz na recuperação de sistemas complexos, além de ser mais barata e de garantir melhores resultados na biodiversidade no longo prazo. Um dos casos em análise foi o da floresta urbana da cidade alemã de Leipzig, cujo ciclo de inundações anuais tinha sido interrompido durante quase um século, tendo como consequência o crescente empobrecimento da biodiversidade. Depois das ações de restauro, que incluíram a reposição da possibilidade de inundações cíclicas, o ecossistema readquiriu parte da biodiversidade perdida.

Como Henrique Miguel Pereira explicou na altura ao Diário de Notícias, a abordagem da renaturalização dos ecossistemas é eficaz, uma vez que se baseia em três aspetos fundamentais: a reposição da complexidade da cadeia alimentar, o reforço da conectividade entre os territórios e a possibilidade de permitir que ocorram as perturbações naturais de cada ecossistema.

Em Portugal, a Associação Transumância e Natureza (ATN), proprietária da Reserva da Faia Brava, conta já com duas décadas de trabalho em prol da regeneração ambiental da região do Vale do Côa.

Além disso, a estratégia pode ser aplicada em escalas muito diferentes. Na última década, a autarquia de Cascais tem vindo a apostar na renaturalização das margens das ribeiras do concelho, com vista a aumentar a permeabilização dos solos – uma forma de minorar os efeitos das cheias – e de alargar os espaços verdes.

Numa dimensão totalmente diversa, já este ano, o governo britânico anunciou a criação de subsídios para os agricultores que queiram renaturalizar os seus terrenos. O Reino Unido, que alberga 33 milhões de ovelhas, é dos países europeus com a paisagem mais alterada – desde a época vitoriana que boa parte dos bosques foram reconvertidos em pastagens – e tem registado perdas notáveis de biodiversidade. Com a nova política de subsídios, o governo pretende chegar a 2042 com mais 300 mil hectares renaturalizados, aumentando a área de espaço silvestre, que atualmente não vai além de 12% do território.

O renascer de um corredor ecológico

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