O presidente da Associação Industrial (AIA) angolana perspetivou hoje um “choque grande” nos preços, em consequência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, face à grande dependência do exterior para aquisição das matérias-primas.
José Severino sublinhou, em declarações à agência Lusa, o impacto no petróleo, com a subida vertiginosa do preço, e os combustíveis, dos quais Angola ainda é dependente do exterior em cerca de 65%.
“O Governo também vai estar sob pressão, que é aquilo que está a acontecer nas economias. A energia, a tração dos camiões, a navegação, tudo isso vai subir preços, inquestionavelmente que sim, e as mercadorias para chegar ao consumidor tem custos de transporte, que são extremamente elevados”, frisou.
Segundo José Severino, ainda que o Governo mantenha o subsídio sobre os combustíveis, o Orçamento Geral do Estado vai ficar “numa situação muito complexa”.
“Temos a questão da nossa dependência externa em matérias-primas para a indústria e insumos para a agricultura, por exemplo os adubos. Felizmente há stocks de adubos, mas isso não chega”, frisou.
José Severino lembrou que a Rússia é o maior fornecedor de fertilizantes, bem como a Ucrânia, mas hoje está a dirigir este produto apenas para alguns mercados que se solidarizaram com Moscovo após a invasão da Ucrânia “e os preços vão subir”.
“O preço do petróleo sobe, os combustíveis, os adubos, tudo isso vem atrás e repercute-se depois naquilo que são as matérias-primas, que é o nosso caso, como na produção agrícola, que, infelizmente, nós dependemos por desatenção em períodos anteriores a essa legislatura, de que teríamos que usar dos nossos recursos naturais, as nossas vantagens competitivas para termos hoje quase que autossuficiência em milho, sobretudo, mas também em feijão e em oleaginosas, como a soja para termos refinação”, disse.
O líder associativista referiu que o Governo vai subsidiar o pão, o que “não é fácil, porque tem o subsídio dos combustíveis”.
“Porque se não vai subsidiar os combustíveis ou reduz, o transporte torna-se muito mais cara e lá vai o reflexo também no pão e em tudo quanto a gente come”, afirmou.
“Nós estivemos desatentos até 2015, 2016, 2017 a esta situação, foi a ‘petrodólar-mania’ que se impôs e hoje vamos pagar caro, mas dá-nos oportunidades, por exemplo, a mandioca (…) um alimento importante para a nutrição, não ela em si só, mas transformada”, completou.
José Severino elogiou a antecipação feita pelo Governo com a redução de taxas aduaneiras de alguns produtos e a redução para metade, de 14% para 7%, do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA), contudo, defendeu a necessidade de uma atitude mais pragmática para a produção nacional.