Cabo Verde vai duplicar a capacidade de armazenamento de cereais, nomeadamente milho, essencial para alimentação e ração de animais, e subsidiar os produtos alimentares da cesta básica, para travar a escalada de preços, anunciou hoje o Governo.
O reforço da capacidade de armazenamento de cereais foi uma das medidas apresentadas hoje pelo ministro da Agricultura, Gilberto Silva, no palácio do Governo, na Praia, para mitigação da escalada de preços nos alimentos, face à conjuntura internacional provocada pela guerra na Ucrânia.
“E aqui, a questão do milho é essencial. Então, estamos a tomar medidas para aumentar a capacidade dos silos de 14 mil toneladas para 32 mil toneladas, através de um acordo com uma empresa privada que já detém esta capacidade de ‘stock’ aqui em Santiago e assim permitir que as empresas de importação de cereais, especialmente do milho, possam assegurar maior quantidade e dar maior segurança”, afirmou Gilberto Silva.
Entre as medidas decididas pelo gabinete de crise criado pelo Governo, aprovadas esta manhã em reunião do Conselho de Ministros, consta igualmente a redução da carga fiscal sobre o leite: “E desta forma fazer com que os preços possam baixar em relação aos níveis atuais”.
O governante acrescentou que, por intervenção do Estado, serão mantidos os preços atuais do milho, trigo e óleos alimentares, “através de compensação financeira”, tendo como base o preço médio das últimas importações pelo país.
“E o que vem a seguir fazer a compensação, importação a importação. Trata-se de uma medida válida por três meses, mas que poderá ser renovada por iguais e sucessivos períodos, se a conjuntura internacional assim justificar”, anunciou ainda.
Segundo Gilberto Silva, as medidas para mitigação da escalada de preços no setor alimentar visam assegurar o acesso aos alimentos, “para que não haja rutura nos produtos alimentares de primeira necessidade”, que são o milho, trigo, arroz, açúcar, feijão, leite e óleo alimentar”.
“É fundamental travar a escalada de preços (…) Se os preços subirem demais, terá de haver, face ao rendimento das famílias, a redução do cabaz de compras, o que também contribuirá negativamente para a segurança alimentar no país”, alertou o governante.
A intervenção de mitigação do Governo visa igualmente garantir a “continuidade da atividade pecuária em condições de rendimento”, tendo em conta a importância que representa “pela disponibilidade de alimentos e rendimentos para a famílias”.
Explicou que será bonificado pelo Estado o preço das rações para a produção e criação de ruminantes, suínos, aves e coelhos, tendo em conta a escalada do preço do milho, recordando que 96% das importações daquele cereal por Cabo Verde são para ração animal, transformada por isso, depois, “em carne, leite e ovos, mas também no emprego das famílias”.
“Há a necessidade de manter no nível atual, não deixar subir para além do nível atual, o preço do milho, para que a atividade pecuária possa continuar rentável e daí a continuidade da bonificação da ração”, apontou Gilberto Silva.
Será também dado “apoio institucional” do Governo às “compras agrupadas” pelas empresas, face à dimensão do país e avançará o reforço de ações de fiscalização para evitar o açambarcamento de produtos de primeira necessidade e a especulação de preços.
Gilberto Silva destacou igualmente a importância da manutenção das refeições escolares para as crianças, durante o período de férias, face às dificuldades sentidas pelas famílias.
Os preços em Cabo Verde aumentaram 0,7% no mês de fevereiro e acumulam uma subida de 7,1% face ao mesmo mês de 2021, indicam os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) cabo-verdiano.
Esses aumentos generalizados em Cabo Verde estão a ser mais visivelmente sentidos nas últimas semanas em produtos alimentares de primeira necessidade, como o pão ou o óleo.
O preço médio dos combustíveis aumentou mais de 4% este mês em Cabo Verde, conforme novos valores máximos definidos pela agência reguladora do setor, e acumularam uma subida de quase 46% em todo o ano de 2021.
Já as tarifas da eletricidade, igualmente condicionadas pelos preços dos combustíveis – Cabo Verde depende da produção de eletricidade em centrais a gasóleo -, aumentaram em média 30% em outubro passado.
Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.