Os agricultores do vale do Mondego, que hoje apresentaram, em Coimbra, um caderno reivindicativo relacionado com os “brutais” aumento dos fatores de produção, deram duas semanas ao Governo para responder às reclamações e ameaçaram com protestos de rua.
A exposição, dirigida ao primeiro-ministro, António Costa, e à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, foi hoje entregue por representantes da Associação Distrital de Agricultores de Coimbra (Adaco) e elementos da Comissão de Agricultores do Mondego, a responsáveis da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro.
“Caso não haja uma resposta positiva às suas reclamações no prazo de 15 dias [até 12 de abril] a Comissão de Agricultores reunirá após este prazo para definir formas de luta. Poderá haver uma ação de rua com máquinas agrícolas”, disse hoje à agência Lusa Isménio Oliveira, coordenador da Adaco.
Os agricultores do vale do Mondego exigem “apoio imediato” ao Governo, argumentando que, sem ajudas, o “aumento brutal” dos fatores de produção irá levar à falência de inúmeras explorações agrícolas.
Isménio Oliveira frisou que os adubos “aumentaram 200% no espaço de um ano” (de 200 euros para 600 euros a tonelada) “e o feno a mesma coisa”, para além do aumento do gasóleo verde “para o dobro”, de 80 cêntimos por litro, “já com o apoio que havia”, para cerca de 1,6 euros.
“São aumentos brutais, a situação é incomportável”, declarou o coordenador da Adaco.
O caderno reivindicativo engloba, entre outras, medidas “urgentes”, como a isenção do IVA e da tributação em sede de Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP) no gasóleo agrícola, “como há e bem para outras atividades ligadas ao setor primário”, regulação dos preços máximos em outros fatores de produção ou “preços mínimos de intervenção que sejam justos, regulados pelo Governo”, com escoamento dos produtos para escolas e cantinas universitárias.
A lista integra ainda a reclamação de seguros agrícolas públicos “em que os prejuízos havidos sejam efetivamente pagos, independentemente da velocidade dos ventos e da percentagem de área afetada”, um desconto mínimo de 50% na energia elétrica gasta na agricultura em explorações com áreas inferiores a 50 hectares ou o fim dos 5% de pousio obrigatório de terrenos acima dos 15 hectares.
Para além da reivindicação destes apoios, a Comissão solicitou hoje a resposta a duas outras questões que definiu como “importantes”: a falta de terra no Vale do Mondego para a instalação de jovens agricultores e a urgência das obras no dique de onde é canalizada a água do rio Mondego para o vale do Pranto, na margem esquerda.
Isménio Oliveira afiançou que “há muita área agrícola e florestal na posse do Estado, que pode e deve ser posta à disposição de jovens agricultores”, dando o exemplo de 50 hectares no Mondego “que estão cedidos à associação de regantes” ou de uma zona florestal no município de Mira.
Já sobre as obras “prometidas desde 2018 e ainda não realizadas” no dique que canaliza a água para o vale do Pranto, o responsável da Adaco lembrou que “essa água continua a correr com elevado teor de sal, o que provoca danos significativos na cultura do arroz”.
Na zona do vale do Mondego a atividade agrícola ocupa cerca de 15 mil hectares e sensivelmente seis a sete mil agricultores, sendo o arroz, milho, hortofrutícolas e batata as principais produções.
Comissão de Agricultores do Baixo-Mondego da ADACO recebida hoje na Direção Regional de Agricultura