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Fladgate cortou vendas à Rússia e já vive problemas logísticos da China

A Fladgate Partnership cortou as vendas à Rússia devido à guerra e está preocupada com as consequências da política chinesa anti-covid na cadeia logística internacional, disse à Lusa o líder da ‘holding’ do vinho do Porto e hotelaria.

“As nossas vendas lá [Rússia] eram meio milhão de euros anualmente, e no início da guerra nós cortámos, ponto final”, disse, em entrevista à Lusa, Adrian Bridge, presidente executivo da The Fladgate Partnership, que agrega marcas de vinho do Porto como a Taylor’s, Croft, Fonseca ou Krohn, ou hotéis como o The Yeatman, Infante Sagres, ou ainda o centro World of Wine (WOW).

O responsável afirmou que a sua ‘holding’ cortou “tudo com a Rússia porque não está correto” e “não é possível” estar “a favor desta guerra, é ridículo”.

“Não podemos continuar a fazer negócios com eles”, vincou, revelando ainda que a Ucrânia “é um mercado relativamente mais pequeno” para o grupo.

Relativamente à guerra, o líder do grupo empresarial adiantou que se ofereceu para “receber refugiados ucranianos” e dar-lhes emprego, tanto na desmatação como no setor do turismo, devido à capacidade de alojamento que a empresa detém, tanto no Douro como na cidade, mas até agora não acolheu ninguém.

De resto, Adrian Bridge revelou preocupação com “a disponibilidade de pessoal” nos seus negócios, em particular com “o ponto da situação de arranjo de pessoal no Douro, por exemplo, e também na área da hotelaria e turismo”.

Aliada à dificuldade com o pessoal, antes da guerra na Ucrânia eclodir ja havia dificuldades devido aos custos com a energia.

“A energia tem um impacto enorme. E também note-se que esta visão dos políticos grandes tem impacto. Por exemplo o plástico é mau, é verdade, mas quando toda a gente quer transformar a sua utilização de plástico para papel, dará muita pressão e também há menos árvores disponíveis para os produtos de madeira, o que obviamente implica paletes. O custo de paletes aumentou 40%, se estiverem disponíveis”, ilustrou.

De acordo com Adrian Bridge, os madeireiros “aumentam de preço a cada mês” e “agora há um suplemento por energia, que nós precisamos também, e passa para o nosso cliente final”.

Ainda assim, segundo o seu presidente, a The Fladgate Partnership antecipou alguns dos custos de energia associados ao setor do vinho, tendo aumentado as compras de paletes em maio e junho do ano passado.

Além disso, adicionalmente a ter uma produção de energia renovável de 64% do seu total e de estar a planear produzir 800 kilowatts (KW) através de painéis fotovoltaicos, a redução do peso do vidro nas garrafas produzidas também contribui para poupanças energéticas e monetárias.

“Estamos a retirar o peso das nossas garrafas. Foi uma decisão de ‘design’ feita na primavera do ano passado, está em processo. Isto ajuda, porque se não tenho 620 gramas e são só 540 gramas, esta poupança vai entrar agora”, elencou.

A The Fladgate Partnership, que detém ainda as empresas de distribuição Heritage Wines e Grossão/OnWine em Portugal, também se está a deparar com um novo mas velho problema: a pandemia de covid-19, mas na China.

“Está pior agora, com a política na China anti-covid, e a sua metodologia, porque não há tantas pessoas vacinadas, e fecharem o país implica menos logística, menos movimento na China, menos barcos que passam perto de Portugal”, referiu.

“Agora temos quatro ou cinco contentores para encomendas nos Estados Unidos que ainda estão cá por falta de transporte nos barcos, porque há menos barcos”, acrescentou Adrian Bridge.

Nas exportações para a Califórnia, por exemplo, o responsável revelou que “o tempo necessário para os barcos pausarem em frente ao Orange County, onde eles atracam”, passou para “dez dias em cima da água a esperar para entrar no porto”.

A Lusa questionou Adrian Bridge sobre a altura de um eventual regresso à normalidade, tendo o responsável atirado uma moeda imaginária ao ar e respondido “não faço ideia”.

“Tudo isto são coisas completamente fora do nosso controlo. O que nós podemos fazer é planear, o que podemos fazer é acelerar adaptações, por exemplo o processo de garrafas mais leves é possível acelerar”, respondeu.

A ‘holding’ continuará a apostar nas categorias especiais de vinho do Porto (vinhos com mais de quatro anos de envelhecimento), que registou um recorde no ano passado e “começaram bem este ano”, segundo o executivo.


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