Insetos e algas: o negócio dos novos alimentos 

Entogreen e Allmicroalgae são dois projetos nacionais empenhados na procura de alimentos à base de insetos e de microalgas, com investimentos feitos e em carteira, e que querem dar cartas no mundo.

As alterações climáticas (secas extremas e fenómenos naturais agressivos), e a previsão de atingir uma população mundial de nove mil milhões em 2050 já eram motivo suficiente para o mundo despertar para a urgente necessidade de reduzir o desperdício alimentar e encontrar novas formas sustentáveis de produzir alimentos. Os constrangimentos da pandemia e a invasão da Ucrânia pela Rússia vieram acelerar ainda mais esta urgência. A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), uma agência da ONU, veio já avisar que a guerra terá um impacto a nível global nunca visto desde a Segunda Guerra Mundial, sobretudo ao nível alimentar, com a quebra na produção de cereais e aumento dos preços dos fertilizantes, dos quais a Rússia é um dos maiores produtores do mundo. A Ucrânia é o quinto maior exportador mundial de trigo e há países que dependem deste e da Rússia para cerca de 70% dos seus abastecimentos de cereais, nomeadamente na África e na Ásia.

“Estamos numa encruzilhada, só espero que a escassez provocada por esta guerra ignóbil nos acelere a caminhada no bom sentido. O bom sentido a que me refiro é o da produção de alimentos de forma mais sustentável, mais local, a valorizar os cereais ancestrais e as produções locais, usar a agricultura em rotações de cereal, as leguminosas, o pousio, como faziam os nossos avós, usando o estrume dos animais da quinta a substituir os adubos que escasseiam”, afirma Isabel Sousa, professora do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e coordenadora do centro de investigação LEAF (Linking Landscape Environment Agriculture and Food).
Nunca como antes foi tão importante encontrar novas fontes de alimentação alternativa, quer para consumo humano quer para consumo animal. E há empresas nacionais a darem os primeiros passos – e não são assim tão pequenos -, na produção de proteínas que possam vir a ser soluções alimentares interessantes num futuro próximo. Falamos de duas áreas que pretendem tornar-se importantes clusters nacionais: o da produção de insetos e o da produção de microalgas, produtos destinados, além de outros fins, ao consumo humano e animal.

Insetos: um novo cluster nacional

A utilização da proteína de inseto na alimentação já é usual nas sociedades orientais, e desde 2013 que a FAO defende a sua utilização. Também a estratégia europeia do Prado ao Prato, incluída no Acordo Ecológico Europeu, identifica os insetos como uma boa alternativa alimentar. Foi já com esta visão de futuro que, em 2015, Daniel Murta e Rui Nunes, dois investigadores que seguiam linhas diferentes, mas com interesses similares, se uniram num projeto comum, ligado à investigação e produção de insetos. Foi após uma reunião no Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) em Santarém, que avançaram para o que é hoje a Entogreen, uma marca da empresa Ingredient Odissey. Inicialmente instalada junto ao INIAV, da qual é parceira, a empresa desenvolveu uma linha de investigação centrada na utilização de insetos para a valorização de subprodutos vegetais e para a sua integração na nutrição animal e vegetal. Esta bioindústria utiliza os desperdícios de produtos vegetais diretamente de produtores ou […]

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