CAP Agricultores

Guerra na Ucrânia: Ajudas excecionais colocam agricultores portugueses em desvantagem concorrencial face aos congéneres europeus. Governo tem de pedir alteração ao mecanismo europeu de apoio ao setor agrícola

Ajudas excecionais são muito inferiores às de outros países, com destaque para Espanha, o que origina uma enorme desvantagem competitiva para os pordutores nacionais e prejuízo para os consumidores.

Em Portugal, o Ministério da Agricultura propõe uma ajuda de €7 por cada vaca em pecuária extensiva, enquanto em Espanha o valor atinge €60. No setor do leite, o apoio por cabeça pode chegar aos €210 no país vizinho, e, em Portugal, €40. Disparidades destas nos valores dos apoios excepcionais, penalizam de forma incomportável os produtores portugueses, pelo que o Governo deve propor urgentemente à Comissão Europeia a alteração relativa às transferências de verbas do segundo para o primeiro pilar da PAC. Se tais diferenças não forem corrigidas, o consumidor português será ainda mais penalizado com a já inevitável subida dos preços.

No âmbito das medidas excecionais comunitárias de apoio à Agricultura, na sequência da guerra na Ucrânia, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) apela a que o Governo português proponha, junto da comissão Europeia, uma alteração da sua anterior decisão relativamente à transferência de verbas do segundo para o primeiro pilar da Política Agrícola Comum (PAC). Esta alteração, que não tem qualquer impacto no Orçamento do Estado, permitirá um reforço das ajudas a atribuir aos produtores nacionais que, na proposta apresentada na semana passada pela Ministra da Agricultura e da Alimentação às confederações setoriais, deixam os Agricultores portugueses numa situação de inaceitável desvantagem para com os seus congéneres europeus, agravando assim o cenário de enormes dificuldades em que o setor agrícola nacional já se encontra.

A Comissão Europeia acionou recentemente o mecanismo de reserva de crise com o objetivo de apoiar os setores agrícolas mais afetados pela guerra na Ucrânia, tendo sido atribuído a Portugal um pacote de €9,1 milhões em apoios excecionais. Contudo, tal mecanismo, implementado nas condições originalmente propostas pela Comissão, prejudica de forma muito clara Portugal, face à larga maioria dos Estados-membros, uma vez que é dos países onde o primeiro pilar – relativo aos pagamentos diretos – tem menor peso: apenas 50%, quando em grande parte dos congéneres europeus se situa acima de 80%.

Relativamente aos montantes financeiros a distribuir aos agricultores, esta característica leva a que o nosso país tenha um valor percentual de pagamentos diretos inferior ao de outros países da União Europeia, o que, com o objetivo de fazer face aos efeitos do conflito na Ucrânia no setor agroalimentar europeu, também se reflete nas ajudas excecionais a atribuir aos agricultores portugueses, com impacto no preço final ao consumidor.

Na proposta apresentada pelo Ministério da Agricultura, é atribuído, por exemplo, ao setor da pecuária extensiva, um apoio de €7 por cada vaca mãe, enquanto em Espanha esse valor atinge €60. No caso das ovelhas e das cabras, o valor em Portugal é de €1,3 por animal, mas em Espanha €7. No setor do leite, o apoio em Portugal fica-se pelos €40 euros por vaca leiteira, enquanto, no país vizinho, o apoio pode chegar aos €210 (até 40 animais), estabelecendo como valor mínimo €80 (quando o número de animais ultrapassa as 140 cabeças por produtor). Já as ajudas ao leite de ovelha e de cabra, são inexistentes para os portugueses, enquanto os espanhóis recebem €15 e €10 por ovelha e cabra, respetivamente.

Tais discrepâncias nas ajudas a pagar aos agricultores colocam os produtores portugueses numa situação de inaceitável desvantagem concorrencial perante os seus congéneres europeus, em particular com o seu vizinho e principal parceiro comercial, agravando muitíssimo as dificuldades com que o setor agrícola português se debate.

Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da CAP, afirma: “Os apoios excecionais têm de servir para melhorar as condições de produção e garantir equidade entre os diferentes Estados-Membros. Estamos, claramente, perante um quadro muito penalizador para os agricultores portugueses, que, num cenário já por si difícil, constatam que afinal as ajudas comunitárias, ao invés de permitirem melhorar a situação económico-financeira das suas explorações, estão a colocá-las em evidente desvantagem concorrencial. Vivemos num mercado global e estamos em concorrência direta com os outros produtores europeus, que recebem apoios muito superiores, conseguindo aliviar alguns custos de produção, e, por conseguinte, diminuir o impacto da crise no preço final dos produtos ao consumidor. Se estas diferenças não forem corrigidas, o consumidor português será ainda mais penalizado com a já inevitável subida dos preços.”

Assim, face a esta situação de desvantagem dos agricultores portugueses, a CAP apela a que o Governo, com a maior urgência, solicite à Comissão Europeia a alteração da sua anterior decisão, relativamente à transferência de verbas do segundo para o primeiro pilar da PAC, de 18% para 30%, em linha com o que foi preconizado pelo próprio Conselho Europeu sobre esta matéria.

Face à pertinência deste assunto, o Presidente da CAP dirigiu uma carta ao Comissário Europeu da Agricultura, defendendo esta alteração, no sentido de contribuir para que o Governo português seja bem-sucedido nessa iniciativa.


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