Estudo do Potencial Produtivo do Pinhal Interior Sul – Concelho de Vila de Rei – Inês de Sousa Teixeira

A Federação dos Produtores Florestais de Portugal em parceria com Associação dos Produtores florestais do Concelho de Vila de Rei e com a Silvicentro, desenvolveu um projecto intitulado “Estudo do Potencial do Pinhal Interior Sul” – PAMAF: Medida 4 – Acção 4 – Estudos Estratégicos, onde foi feito um diagnóstico aprofundado do reconhecido problema do Pinhal Interior onde se insere a área de incidência deste estudo.

A abordagem teve como principais objectivos a caracterização da área florestal do concelho e a caracterização da propriedade e do proprietário Florestal. Com este intuito foi realizado um inventário de campo e um inquérito a diversos proprietários florestais do concelho.

A floresta é a principal forma de ocupação do solo (aproximadamente de 71% da superfície do concelho), correspondendo a uma área total de 13520 hectares, onde o pinheiro bravo é a principal espécie ocorrendo em cerca de 81,5% da referida área florestal em povoamentos puros e mistos dominantes consociados, numa percentagem relativamente pequena, com eucalipto e sobreiro.

Tratam-se de manchas extensas provenientes essencialmente de regeneração natural, onde as densidades médias são extremamente elevadas o que revela o estado de abandono a que estão sujeitas.

Os povoamentos com menor densidade, pertencentes às classes de idade mais avançadas, correspondem aos estratos onde a pressão de corte é maior, sendo escolhidos para “sair” os indivíduos melhor conformados, assistindo-se assim, à “degradação” do património genético pois a regeneração é feita naturalmente.

As intervenções feitas nos povoamentos limitam-se, na maioria dos casos aos cortes. A limpeza de matos e aproveitamento da regeneração natural não é realizada, o que se traduz numa elevada densidade de espécies arbustivas, geralmente muito inflamáveis, rondando a altura média dos matos os 80 cm para os povoamentos de pinheiro bravo. É de salientar a presença de regeneração natural de sobreiro nestas manchas que ao ser alvo de aproveitamento contribuiria para diversificação das áreas florestais e para a consequente diminuição do risco de incêndio.

A quase ausência de acções de gestão nos povoamentos pertencentes às classes de idade mais jovens coloca em causa a sua produtividade e torna estes povoamentos extremamente vulneráveis ao fogo, que se vier a ocorrer é de prever a evolução destas áreas para áreas de incultos, ou eventualmente para áreas de eucalipto, uma vez que não é usual a instalação artificial de povoamentos com pinheiro bravo.

Os povoamentos actualmente em exploração tendem a evoluir, ou já o são, para povoamentos irregulares, ou povoamentos sub–lotados com um elevado grau de cobertura de matos, uma vez que não são feitas rearborizações ou um aproveitamento eficiente da regeneração natural de pinheiro bravo.

Predominam as propriedades com uma área compreendida entre os 5 e os 10 hectares, onde a superfície florestal representa, em média, perto de 90% da área total das explorações, sendo a restante área predominantemente agrícola.

O número médio de blocos (parcelas de terreno que sejam continuas separadas, ou não, por caminhos ou estradas) existentes por propriedade é de 14, o que vem confirmar o grave problema estrutural da fragmentação destas propriedades.

A idade média dos proprietários florestais é elevada (68 anos) e possuem um nível de instrução baixo. Os seus descendentes residem na sua maioria na área metropolitana de Lisboa e possuem um grau de instrução superior aos actuais proprietários florestais. Quer isto dizer que dentro de cerca de 14 anos (Sabendo que a esperança média de vida para os homens em Portugal continental com uma idade compreendida entre os 65 e 69 anos é de aproximadamente 14 anos) o numero de proprietários residentes fora do concelho aumentará substancialmente e agravando-se o problema do envelhecimento populacional.

As principais produções são as lenhas, as madeiras para serrar e folhear e as rolarias para as celuloses, não sendo significativas outras produções associadas à floresta onde as produções de cortiça são pontuais e as de resina inexistentes. Neste cenário os proprietários consideram que a actividade florestal tem um peso reduzido no seu rendimento global.

Uma percentagem significativa (cerca de 40%) dos proprietários não realizou qualquer corte nos últimos 10 anos. Os cortes que foram efectuados neste período de tempo foram feitos pé a pé, ou seja, cortes salteados onde, como já foi referido, são retiradas as árvores de maior dimensão e com as melhores características. A idade média atribuída à maioria destas árvores abatidas situa-se entre os 40 a 50 anos.

É de referir que o “medo dos incêndios” desincentiva a realização de acções de gestão e é, sem duvida, o principal motivo do próximo corte, tendo os proprietários referido, também, como factores importantes a idade e tamanho dos pinheiros e ainda a “necessidade de dinheiro”.

Para acções como identificação e delimitação de propriedades, limpeza de mato, desbastes, desramações, vigilância contra incêndios, construção de rede viária e instalação de povoamentos, a grande maioria dos inquiridos responderam aceitar a intervenção por parte da Associação desde que não tivessem de participar nos custos.

Apesar do panorama não ser o mais favorável, os proprietários, na sua maioria, não colocam a hipótese de arrendar ou vender a sua propriedade e mostraram-se dispostos a concertar esforços para a realização conjunta de acções, ou seja, estariam disponíveis para se integrarem numa gestão em áreas agrupadas depois da realização de um projecto de investimento inicial (de beneficiação) desde que concordassem com a sua programação.

Esta forma de gestão está fortemente condicionada pelo desconhecimento do seu possível funcionamento e pela falta de disponibilidade financeira, por parte dos proprietários, para investir.

Assim, será fundamental, através da Associação, a implementação de acções de gestão em áreas agrupadas, ainda que numa fase inicial em áreas de dimensão relativamente reduzida, mas que funcionem como áreas demonstrativas e o apoio financeiro através de programas de investimento já existentes.

Identificadas as necessidades de intervenção na área do Pinhal Interior no concelho de Vila de Rei há que actuar de forma a contrariar o previsível aumento do risco de incêndio e o sub-aproveitamento do potencial produtivo das áreas de pinhal.

Inês de Sousa Teixeira
Engª. Florestal
Técnica da Federação dos Produtores Florestais de Portugal


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