O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, pediu hoje uma iniciativa de todas as partes para desbloquear os milhões de toneladas de cereais armazenados nos portos do sul da Ucrânia após a invasão pela Rússia, para evitar uma crise alimentar global.
“Será necessário que os portos sejam desminados, por isso todas as partes envolvidas devem abrir um parêntese de colaboração para evitar um cenário que causaria a morte de milhões e milhões de pessoas nas zonas mais pobres do mundo”, disse Draghi numa intervenção no Senado italiano sobre a guerra na Ucrânia.
A Itália está a organizar um diálogo ministerial com os países mediterrânicos para 8 de junho, em colaboração com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), para perceber as necessidades e delinear medidas face às graves repercussões da guerra na segurança alimentar, nomeadamente no Mediterrâneo e em África.
“Temos de agir com urgência para evitar que o conflito provoque uma crise alimentar global”, declarou Draghi, que na sua recente viagem aos Estados Unidos partilhou com o Presidente norte-americano, Joe Biden, “a necessidade de evitar que a crise humanitária se agrave”.
“Temos de chegar a um cessar-fogo o mais rápido possível e reiniciar as negociações”, defendeu o primeiro-ministro de Itália.
Mario Draghi reiterou a necessidade de manter as sanções para conseguir “levar Moscovo à mesa das negociações”, embora tenha sublinhado que “será a Ucrânia e não outros que decidirão que paz aceitar”.
As sanções têm tido um impacto significativo na economia russa, que será ainda mais forte nos próximos meses, segundo os organismos internacionais.
A melhoria das capacidades de defesa “não é suficiente para construir uma paz duradoura e uma coexistência pacífica”, afirmou ainda o chefe do Governo italiano.
Por isso instou a começar a construir “uma conferência internacional baseada no modelo de Helsínquia”, referindo-se à Conferência sobre Segurança e Cooperação Europeia (CSCE) que decorreu entre 1973 e 1975 e que ajudou a aliviar as tensões e a pôr fim à Guerra Fria.
Sobre a crise energética provocada pela guerra, Mario Draghi disse no Senado que Itália deve “tornar-se independente do gás russo no segundo semestre de 2024”, graças aos seus esforços para diversificar os seus fornecedores iniciados na sequência da invasão da Ucrânia.
“Agimos rapidamente para reduzir a parte do gás natural que importamos da Rússia”, ou seja, 40% do total em 2021, e “os primeiros efeitos” desta política “serão sentidos a partir do final de 2022”, disse aos senadores.
A Itália é um dos maiores consumidores de gás da Europa, representando 42% do seu consumo de energia, e importa 95% do mesmo.
Para reduzir a sua dependência da Rússia, a Itália assinou em abril um importante acordo com a Argélia sobre o aumento do fornecimento de gás. Também foram realizadas discussões com o Qatar, Angola, Congo e Moçambique.