Rússia volta a virar os factos do avesso. Agora, sobre os cereais que não deixa sair da Ucrânia

Moscovo bloqueou os portos ucranianos no Mar Negro, mas o embaixador russo na ONU diz que é a Ucrânia que está a impedir a exportação dos seus cereais por via marítima. Entre outras realidades alternativas, também acusou a Ucrânia de ter colocado minas nessas rotas marítimas

Ao fim de quase três meses a jurar que não há uma guerra na Ucrânia, e a garantir que está a “libertar” o povo ucraniano; depois de ter dito que os ucranianos se estavam a bombardear a si próprios, e de ter acusado a Ucrânia de ser responsável pelo massacre de Bucha (ou pela “encenação” de Bucha, conforme as versões), a Rússia voltou esta quinta-feira a apostar forte em virar os factos do avesso. De acordo com a realidade alternativa propagada pelos representantes russos, é a Ucrânia que está a impedir que saiam dos seus portos do Mar Negro cargueiros com cereais ucranianos.

A insólita tese, que contraria todas as evidências e até as reivindicações de superioridade militar naval propagadas pelo Kremlin, foi defendida ontem pelo embaixador russo nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya.

O representante permanente da Rússia na ONU tem sido um dos grandes propagandistas dos “factos alternativos” do Kremlin, e ontem voltou a fazê-lo, durante um debate sobre as consequências – para a Ucrânia, mas também para povos de todo o mundo – do bloqueio naval que a Armada russa impôs nos portos ucranianos do Mar Negro. Toneladas de cereais que a Ucrânia deveria exportar para diversas partes do mundo estão retidas, colocando em risco a alimentação de milhões de pessoas, conforme voltou a alertar o secretário-geral da ONU, António Guterres.

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Não há sanções sobre alimentos ou fertilizantes

Durante a sessão, o embaixador russo propôs que os países ocidentais levantem o bloqueio aos fornecimentos de produtos agrícolas e fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia. “Temos uma colheita recorde de trigo este ano. Podemos oferecer-nos para exportar 25 milhões de toneladas de cereais através do porto de Novorossiysk, de 1 de Agosto até ao final do ano. Podemos discutir outras compras, em particular, tendo em conta que de Junho a Dezembro, o potencial de exportação de fertilizantes será de pelo menos 22 milhões de toneladas”, disse o enviado russo.

Porém, esta “oferta” parte de um pressuposto falso: não há qualquer embargo dos EUA ou dos seus aliados a produtos agrícolas ou fertilizantes russos e bielorrussos. “As sanções não estão a impedir a Rússia de exportar alimentos e fertilizantes; as sanções impostas pelos Estados Unidos e por muitos outros países incluem deliberadamente exceções para alimentos, fertilizantes e sementes da Rússia […]

Veja a reportagem na CNN Portugal.


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