O ministro dos Negócios Estrangeiros português admitiu hoje no Mindelo, Cabo Verde, a necessidade de a União Europeia (UE) procurar “soluções” para a exportação de cereais para países africanos, afetados pela escalada de preços provocada pela guerra na Ucrânia.
“Estamos num quadro muito complicado da vida internacional e um quadro que afeta o globo inteiro e de maneira muito especial países no continente africano, países insulares, países que têm o hábito de importar cereais daquela região, da Ucrânia e da Rússia”, afirmou João Gomes Cravinho, em declarações conjuntas com o homólogo cabo-verdiano, Rui Figueiredo Soares, no início de uma visita de três dias a Cabo Verde.
“Atualmente, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia e devido à ação militar da Rússia, nós temos um bloqueio de portos de exportação de cereais da Ucrânia e juntamente com a União Europeia vamos procurar trabalhar para que se encontrem soluções que permitam aliviar as dificuldades criadas pela Rússia. Portanto, isto é um desafio grande, mas é um desafio com relação ao qual Portugal sabe que a parceria com Cabo Verde será sempre uma parceria muito valiosa”, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa.
O Governo cabo-verdiano apelou no início de abril à mobilização de apoio orçamental internacional face ao “cenário desastroso” nas contas públicas provocado pela guerra na Ucrânia, estimando em 40 milhões de euros o impacto para conter a escalada de preços, sobretudo nos alimentos básicos, como os cereais, e nos combustíveis.
Cabo Verde não tem capacidade de refinação e importa todos os combustíveis de que necessita, incluindo para a produção de eletricidade, além de 80% de todos os alimentos que consome, impactado pelos mais de três anos de seca que afeta praticamente todo o arquipélago e pela redução da procura turística desde março de 2020, face à pandemia de covid-19.
“Portugal foi um parceiro de primeira linha para que pudéssemos enfrentar com sucesso os grandes desafios da pandemia e contamos com Portugal também para juntos enfrentarmos os grandes desafios que se jogam neste contexto da guerra da Ucrânia”, afirmou, por seu lado, no Mindelo, ilha de São Vicente, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Integração Regional de Cabo Verde, Rui Figueiredo Soares.
“Tive oportunidade de expressar ao senhor ministro João Cravinho que Cabo Verde continuará a cooperar com Portugal nas instâncias multilaterais e nas organizações de que fazemos parte e nomeadamente na CPLP, nas Nações Unidas, para que consigamos uma solução negociada para a situação de crise que vivemos atualmente e consigamos uma atenção especial aos pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento [SIDS, na sigla em inglês], muito atingidos pela crise pandémica”, acrescentou o chefe da diplomacia cabo-verdiana.
Para Rui Figueiredo Soares, a visita de três dias que hoje se inicia “constitui mais uma oportunidade de reafirmar a excelência das relações” entre Cabo Verde e Portugal e permitirá, na quarta-feira, na Praia, ilha de Santiago, “fazer o ponto da situação” e “reforçar esses laços”.
João Gomes Cravinho visita as ilhas de São Vicente, Santo Antão e Santiago, entre hoje e quarta-feira, acompanhado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André, segundo informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal.
A visita, que coincide com o Dia de África (25 de maio), visa dar continuidade aos compromissos firmados na VI Cimeira Bilateral, que decorreu em março na Praia, sob o lema “Parceiros Estratégicos na Recuperação Pós-Pandémica”.
Nesse âmbito, o chefe da diplomacia portuguesa terá encontros de cortesia no dia 25, na cidade da Praia, com o Presidente da República, José Maria Neves, com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, e com o presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia.
Na terça-feira o ministro visita a ilha de Santo Antão, onde se encontrará com autarcas locais.