A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) disse hoje que a agricultura familiar “vive uma situação dramática” e que as medidas de apoio aos agricultores são insuficientes face à “escalada de preços exorbitante” em gasóleo agrícola, fertilizantes, adubos e sementes.
Em conferência de imprensa frente ao parlamento, em Lisboa, onde se discute o Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), a dirigente da CNA Laura Tarrafa afirmou que já há muitos agricultores que “põem em causa reduzir explorações e, em última instância, encerrar explorações agrícolas” e que alguns não têm mesmo meios de trabalhar com os tratores devido ao preço a que está o gasóleo agrícola (cerca de 1,60 euros por litro).
“No gasóleo agrícola os preços continuam a aumentar e as medidas são manifestamente insuficientes. Assistimos a situações de profunda discriminação em que é anunciada a baixa de preço dos combustíveis, mas para produzir alimentos o que houve foi um aumento de três e quatro cêntimos. Exige-se o controlo de preços por parte do Governo” afirmou a responsável da CNA.
Sobre a ‘eletricidade verde’ (medida financeira para reduzir os custos da eletricidade), considerou que os valores hoje já são “insuficientes para combater a escalada de preços”, mas que mesmo esses não estão a chegar e fazem muita falta.
“A senhora ministra diz que está à espera do despacho e nós dizemos a ministra tem de se despachar”, disse Laura Tarrafa.
Ainda segundo a dirigente da CNA, nos últimos dez anos foram encerradas 15 mil explorações agrícolas e isto quando Portugal precisa cada vez mais de soberania alimentar, até pela crise de alimentos que pode decorrer da guerra na Ucrânia (como hoje admitiu a presidente da Comissão Europeia).
“Há muitos anos que a CNA fala de soberania alimentar nacional e ficamos contentes que hoje mais vozes se levantem. Era dramática a situação há 10 anos e hoje é pior com as explorações que encerraram mas é possível transformar”, afirmou.
Para isso, disse, é fundamental o Governo concretizar o Estatuto da Agricultura Familiar, que traria benefícios para estes agricultores.
Além disso, acrescentou, com medidas simples poderiam ser dadas grandes ajudas aos agricultores, como “apoiar a introdução dos alimentos da agricultura familiar nas escolas públicas”.
“É preciso privilegiar a produção nacional e permitir que agricultores escoem a produção a preços justos que lhes permita viver e combater a especulação dos preços dos fatores que produção, que continuam a aumentar para os agricultores sem que depois o preço a que vendem os produtos tenha reflexo. Já os consumidores veem os preços aumentar, mas alguém está a ficar com a fatia de leão, e isso tem de ser regulado”, afirmou.
Segundo a CNA, na agricultura portuguesa, 90% são pequenas e médias explorações agrícolas. Além disso, 40% dos agricultores não recebem quaisquer ajudas da Política Agrícola Comum (PAC). No Valor de Produção Padrão, a agricultura familiar vale quase 50%.
Entende-se por exploração agrícola familiar aquela em que 50% ou mais do trabalho é feito pela família.