Os líderes da União Europeia reúnem-se entre segunda e terça-feira, em Bruxelas, numa cimeira extraordinária na qual discutirão questões de energia, segurança alimentar e defesa, em todos os casos à luz da guerra na Ucrânia, novamente o tema central.
Este Conselho Europeu extraordinário voltará a contar com a participação, por videoconferência, do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que esta semana deplorou a “falta de unidade” entre os 27, numa altura em que os Estados-membros da União Europeia (UE) ainda não chegaram a um acordo em torno do sexto pacote de sanções à Rússia, quase um mês depois de apresentado pela Comissão Europeia, face ao bloqueio da Hungria relativamente ao embargo, mesmo que gradual e progressivo, às importações de petróleo russo.
A cerca de 72 horas da cimeira, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, desenvolve esforços diplomáticos e negociais junto das capitais, sobretudo Budapeste, ainda esperançado em ‘fechar’ um acordo antes da cimeira, de modo a transmitir a mensagem de que a UE continua totalmente unida e alinhada ao lado da Ucrânia, mas se não for encontrado um compromisso até segunda-feira o tema deverá ficar de fora da agenda do Conselho, até para evitar expor à vista de todos as diferenças entre os 27.
Na carta-convite esta sexta-feira dirigida aos líderes dos 27, entre os quais o primeiro-ministro português, António Costa, Charles Michel começa precisamente por sublinhar a necessidade de a UE continuar unida na resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Desde o primeiro dia, temos sido inabaláveis no nosso apoio humanitário, financeiro, militar e político ao povo ucraniano e à sua liderança. Vamos continuar a exercer pressão sobre a Rússia. A nossa unidade tem sido sempre o nosso ativo mais forte e continua a ser o nosso princípio orientador”, lê-se.
Charles Michel indica então que a primeira sessão de trabalhos da cimeira, com início agendado para segunda-feira à tarde, será consagrada totalmente à Ucrânia, com Zelensky a intervir por videoconferência logo no arranque da discussão.
“Uma das nossas preocupações mais prementes é ajudar o Estado ucraniano, juntamente com os nossos parceiros internacionais, com as suas necessidades de liquidez. Também discutiremos a melhor forma de organizar o nosso apoio à reconstrução da Ucrânia, uma vez que será necessário um grande esforço global para reconstruir o país”, aponta.
O dirigente belga indica de seguida que o Conselho Europeu regressará “à questão da energia, incluindo os preços elevados, que estão a atingir duramente as casas e empresas” na UE.
“Temos de acelerar a nossa transição energética se quisermos eliminar gradualmente a nossa dependência dos combustíveis fósseis russos o mais rapidamente possível. Com base nas nossas decisões tomadas em Versalhes, discutiremos as melhores formas de levar o trabalho por diante”, indica.
Portugal e Espanha deverão aproveitar este debate para voltar a insistir no papel que a Península Ibérica pode ter na autonomia energética da UE, reforçando a necessidade de serem desenvolvidas interconexões com o resto da Europa, uma questão que voltou a ser discutida entre António Costa e o chefe de Governo espanhol, Pedro Sánchez, num encontro celebrado na quinta-feira à noite em Madrid.
De acordo com o Governo português, Portugal e Espanha em conjunto têm capacidade instalada para suprir 30% daquilo que são as necessidades energéticas da Europa em gás natural, mas não podem disponibilizar essa capacidade porque não existem ainda interconexões que permitam exportar esse gás natural para o resto da Europa.
Além da Energia, os líderes vão discutir a questão da segurança alimentar global, cada vez mais na ordem do dia, apontando Charles Michel na carta-convite dirigida às capitais que “a agressão militar russa ameaça ter um efeito dramático na segurança alimentar mundial”, a que urge dar resposta.
“Os preços dos alimentos dispararam e estamos a enfrentar sérios riscos de fome e de desestabilização em muitas partes do mundo. Na nossa reunião, iremos discutir formas concretas de ajudar a Ucrânia a exportar os seus produtos agrícolas utilizando as infraestruturas da UE”, diz o presidente do Conselho Europeu.
Também no contexto desta discussão, e dada a especial vulnerabilidade dos países africanos, os 27 terão oportunidade de trocar opiniões com o presidente da União Africana, o líder senegalês, Macky Sall, que se juntará ao debate também através de videoconferência.
Por fim, o Conselho Europeu voltará a discutir o reforço da Defesa europeia, com os 27 a debaterem o estudo encomendado em março à Comissão Europeia sobre as lacunas do investimento na defesa da UE, e apresentado pelo executivo comunitário em 18 de maio.
“A nossa prioridade mais urgente é coordenar os esforços dos Estados-membros para reconstituir os ‘stocks’ e construir uma base industrial europeia. Discutiremos a forma de abordar estas duas questões”, indica Charles Michel.