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Resina Natural Europeia: uma marca para valorizar a fileira resineira

Quando masca uma pastilha elástica, usa um sabonete ou uma tinta está a lidar com materiais produzidos com base em resina. Ultrapassada pela resina sintética, a resina natural e o sector resineiro têm sido pouco dinamizados, uma tendência que se quer inverter com o SustForest Plus. O projeto junta entidades de diversos países – Portugal incluído – para desenvolver uma estratégia de cooperação europeia que acrescente valor tecnológico e comercial à resina natural e para a promover através de uma marca europeia.

Grandes extensões de pinhal com púcaros pendurados nos troncos para recolher a resina natural que brotava de várias incisões. O cenário, mais comum até aos anos 80 do século XX, espelhava o dinamismo daquela que foi uma atividade florestal com grande relevância em Portugal. Depois de ter perdido vitalidade, a fileira da resina tem condições para renascer e o potencial é reconhecido para além das fronteiras portuguesas, expandindo-se um pouco por todos os países europeus onde a resinagem tem tradição.

A criação da marca Resina Natural Europeia é sintomática desta revitalização, mas ela é apenas uma das facetas do SustForest Plus, que tem por ambição valorizar a resina natural europeia como um produto de valor sustentável com valor ambiental, socioeconómico e tecnológico.

Uma estratégia comum a 6 países para valorizar a resina natural europeia

O projeto nasce de uma iniciativa transnacional criada para defender os interesses resineiros europeus e estabelece redes de colaboração e cooperação. Cofinanciado pelo Programa Interreg Sudoe, através do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), conta com um conjunto de oito parceiros beneficiários e a participação de mais de 20 entidades, públicas e privadas, de Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal e Tunísia.

INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, Município de Penela, Município de Proença-a-Nova, ANR – Associação Nacional de Resineiros, AIMMP – Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal, Aflorodounorte – Associação Florestal do Vale do Douro Norte, Certis – Controlo e Certificação, Essência Química – Resinas e Derivados, ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e Resipinus – Associação de Destiladores e Exploradores de Resina são as entidades portuguesas que integram esta rede de cooperação internacional.

Num contexto em que os conceitos da bioeconomia e da economia circular ganham uma relevância crescente para os governos, empresas e consumidores, o projeto SustForest Plus quer potenciar as aplicações da resina natural.

Nesse sentido, lançou as bases para o desenvolvimento de uma estratégia de cooperação transnacional que pretende acrescentar valor tecnológico e comercial à resina produzida na Europa, gerar mais e melhor emprego neste subsector florestal e promover a utilização racional dos recursos naturais.

A grande dificuldade em muitos projetos desta natureza é passar da teoria à prática, transformando um conjunto de ambições coletivas numa estratégia efetiva, com instrumentos práticos que gerem resultados.

Pelas mãos do SustForest Plus foram já criadas diversas iniciativas para dinamizar a procura e produção de produtos derivados da resina natural europeia. Uma das mais recentes foi a criação da já referida marca Resina Natural Europeia, que funciona como um certificado de origem para fazer a gestão e certificação das resinas produzidas, autorizadas e controladas pela Rede Europeia de Territórios Resineiros (RETR).

Com esta iniciativa pretende-se proteger e distinguir a origem da resina natural das florestas europeias de outras resinas com origens extracomunitárias, bem como de todos os outros produtos substitutos.

A criação desta insígnia é, no entanto, um dos múltiplos ângulos de atuação do Plano Para a Promoção da Resina Natural Europeia, que é também constituído pelos seguintes eixos:

  • Cadeia de valor: pretende-se envolver os representantes de todos os elos da cadeia de valor do subsector resineiro europeu, desde os proprietários da floresta, passando pelas empresas transformadoras até ao consumidor final.
  • Pegada de carbono: numa altura em que crescem as preocupações em torno do tema da sustentabilidade ambiental e em que os consumidores são cada vez mais exigentes com a pegada ecológica dos produtos que adquirem, o subsector florestal da resina poderá realçar o seu valor ambiental, comparativamente às resinas derivadas de petróleo e às resinas naturais extracomunitárias.
  • Rastreamento: foi já criada uma appResinapp – para rastrear, em tempo real, o percurso da resina desde a sua extração na floresta até à unidade de processamento onde será feita a sua primeira transformação. Esta ferramenta tecnológica facilita não só a certificação da origem da resina, mas também os procedimentos e fecho de transações entre resineiros e empresas do sector.
  • Comércio internacional: o plano prevê também o desenvolvimento de uma ferramenta de monitorização de informação sobre o mercado internacional de produtos resineiros. Este mecanismo permitirá aos intervenientes da cadeia de abastecimento a tomada de decisões mais informadas sobre a produção e comercialização de resina natural.

Resina natural com potencial para dinamizar

Portugal chegou a ser o segundo maior exportador de resina mundial, mas nas últimas décadas do século XX a extração de resina natural tornou-se numa atividade menos atrativa e conduziu ao seu quase abandono.

O aumento da concorrência de outros mercados (nomeadamente, da China), o aparecimento de produtos alternativos – como as resinas sintéticas –, as dificuldades em encontrar mão-de-obra devido ao êxodo rural e os incêndios florestais são algumas das razões que justificam este declínio.

Mas aquilo que parecia a morte anunciada de uma fileira, acabou por não se confirmar. Desde 2008 – ano em que produção de resina registou níveis mínimos históricos – o sector tem vindo a recuperar. Em 2020, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) a produção de resina nacional, à entrada da fábrica, ascendeu às 6310 toneladas, o que representa um crescimento de 12% face ao ano anterior. E segundo os indicadores da fileira do pinho existiam 209 operadores registados na atividade de extração e um total de 16 indústrias transformadoras que, em conjunto, contabilizavam 1500 postos de trabalho.

Dados mais recentes do Centro Pinus relativos às estatísticas de comércio internacional de 2021, mostram que as exportações portuguesas do sector de resina aumentaram 62% face ao ano anterior.

Mas como se justifica este crescente dinamismo de um subsector florestal que parecia votado ao esquecimento? Por um lado, a elevada cotação dos preços do petróleo nos mercados internacionais torna mais competitiva a fileira da resina natural, uma vez que alguns dos produtos concorrentes da resina dependem de combustíveis fósseis. Mas o grande impulso para a mudança de paradigma no sector da resina advém da necessidade crescente de substituir combustíveis fósseis por produtos alternativos de base biológica – criando oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos que estão alinhados com os princípios da bioeconomia, com a resina natural a valorizar-se como um produto renovável e sustentável.

Esta necessidade foi reconhecida no Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), na componente 12 – Bioeconomia Sustentável, havendo mais de 33 milhões de euros para o sector da resina, num pacote que procura fomentar o uso da resina natural como alternativa a materiais de base fóssil e desenvolver iniciativas para aumentar a sua produção através da gestão florestal.

Mas as vantagens do reforço da aposta neste subsector florestal não se esgotam nesta dimensão. O impacte da atividade da resinagem pode ser sentido em diversas vertentes: além de gerar emprego, permite também aumentar o valor dos pinhais e apoia a vigilância das florestas, contribuindo para minimizar o risco de incêndios.

Recorde-se que a substância viscosa, transparente, de cor amarela acastanhada – extraída sobretudo do pinheiro-bravo (Pinus pinaster) – está na base de muitos dos produtos que usamos no dia a dia e que os seus derivados têm dezenas de aplicações, desde as mais conhecidas, na produção de tintas e vernizes, à perfumaria e indústria farmacêutica. Após a recolha, a resina é sujeita a duas transformações:

  • a primeira tem por objetivo a limpeza e a destilação, permitindo obter duas matérias-primas: essência de terebentina ou aguarrás (líquido volátil que representa 20% da resina) e colofónia ou pez (sólido não volátil que representa 80% da resina).
  • a segunda transformação usa estes derivados no fabrico de outros produtos. A pez é uma importante matéria-prima para a indústria química (tintas para impressão, adesivos, pneus, cosmética, entre outras) e a aguarrás tem igualmente aplicação em múltiplas indústrias, inclusive como solvente e diluente (produtos de limpeza, desinfetantes, inseticidas, perfumaria, farmacêutica). Ambos os derivados são aplicados na produção de tintas e vernizes.

Fique a conhecer um pouco da realidade da atividade do resineiro neste vídeo, da autoria de Paulo Lucas:

O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.


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