O chefe humanitário das Nações Unidas (ONU) deve reunir-se hoje com autoridades russas como parte dos esforços da organização para permitir exportações agrícolas ucranianas e russas através do Mar Negro em plena crise global de alimentos.
O porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse a jornalistas que o subsecretário-geral Martin Griffiths encontrou-se com autoridades russas na quarta-feira e continuará hoje as suas reuniões.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que até quarta-feira não havia nenhuma resolução, mas que a organização está envolvida num firme diálogo com todas as partes relevantes “para encontrar um pacote de acordo”.
Dujarric observou que a visita de Griffiths a Moscovo seguiu-se a uma visita na segunda-feira à capital russa de Rebeca Grynspan, secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, que está a tentar levar grãos russos aos mercados globais. Mais tarde, a secretária-geral seguiu para Washington.
“Vimos muitas declarações positivas vindas de várias capitais”, disse Dujarric. “Também apreciamos muito o papel que a Turquia está a desempenhar em todo o processo. Se tivermos algo concreto para anunciar, o faremos”, acrescentou.
A Ucrânia era, antes da guerra, um dos maiores exportadores mundiais de cereais e fertilizantes agrícolas e os seus bens eram cruciais para a segurança alimentar de áreas como o Médio Oriente e o norte de África.
A maioria dos bens alimentares ucranianos eram expedidos da antiga república soviética para o resto do mundo através dos portos do Mar Negro.
Contudo, o conflito na Ucrânia perturbou o equilíbrio alimentar global e está a levantar temores de uma crise que afetará em particular os países mais pobres.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas — mais de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,8 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
A ONU confirmou hoje que 4.169 civis morreram e 4.982 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 99.º dia, sublinhando que os números reais poderão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a cidades cercadas ou a zonas até agora sob intensos combates.