O mercado do vinho tem acompanhado o progressivo processo de internacionalização / globalização à semelhança de outras produções agrícolas. Uma precisão impõe-se contudo quando se fala da globalização do sector do vinho. Por um lado a globalização dos mercados é um facto incontornável que impõe a todos os actores da fileira esforços acrescidos para garantir uma posição competitiva, por outro lado a globalização da produção, realidade bem diferente.
Com efeito o vinho não é uma mercadoria qualquer, não pode ser produzida em qualquer lugar e deve obedecer a regras bem mais complexas do que a simples minimização dos custos de produção. A localização das vinhas, à semelhança de qualquer outra unidade de produção, está submetida à regra das vantagens comparativas; cada região tem as suas e são bem mais importantes e determinantes da sua imagem e posição no mercado que unicamente os custos de produção.
A redução do consumo de vinho nos países produtores europeus e o crescimento progressivo do consumo de países não produtores, tanto europeus como noutros continentes, com algum destaque para a Ásia, têm constituído um dos factores determinantes do aumento de trocas internacionais. Acresce a este facto o aumento da capacidade produtiva dos chamados países do “novo mundo vitícola” com a contribuição do Hemisfério Sul, essencialmente Chile, África do Sul e Austrália, que com os EUA têm marcado a produção mundial com volumes importantes destinados aos mercados externos.
Este alargamento do mercado tem permitido nos últimos anos compensar a quebra de consumo dos mercados tradicionais, resultantes quer da alteração dos hábitos de vida quer fruto das pressões das campanhas anti-alcoólicas, que centram de forma insistente a sua comunicação em torno do vinho.
No período 1981/85 o mercado mundial do vinho cifrava-se em 49,5 milhões de hl – valor que corresponde à soma dos volumes de exportação (ver Quadro I/2.). Após uma ligeira retracção no período 1986/90 temos assistido a um aumento constante desse valor, situando-se em 1998 em torno dos 66 milhões de hl.
Unidades: 106 hl |
81/85 | 86/90 | 91/95 | 1996 | 1997 | Prev. 1998 | |
1. Consumo Mundial | 280,5 | 237,0 | 224,3 | 221,4 | 223,5 |
220,3 a 228,8 |
2. Mercado Mundial | 49,5 | 44,2 | 51,1 | 57,8 | 64,2 | 65,3 a 66,7 |
3. 2/1 (%) | 17,6 | 18,6 | 22,8 | 26,1 | 28,7 | 28,5 a 30,3 |
Fonte: OIV |
Utilizando os dados do consumo mundial como referência (quadro II/1.) a percentagem de consumo de vinhos “não autóctones” (vinhos consumidos fora dos países de produção), subiu de 17,6% no início do período em análise para um valor próximo de 30% em 1998.
Se analisarmos a origem das transações por países exportadores podemos distinguir 3 grandes grupos com comportamentos distintos (quadro II).
Os 5 principais países exportadores da Europa (França, Espanha, Itália, Alemanha e Portugal) representam actualmente 71% do mercado mundial com 42,9 milhões de hl (média do período 96/98). Comparando com a média de 81/85, constata-se uma perda de 5% no peso relativo do mercado mundial, embora se verifique um aumento em termos absolutos (+5,5 milhões de hl).
Unidades: 106 hl |
5 > UE15 |
Hem.Sul + EUA |
Peco + Magrebe |
Mercado Mundial | ||
81-85 | Vol % |
37,4 76,0 |
0,7 2,0 |
7,0 14,0 |
49,5 – |
86-90 | Vol % |
34,3 78,0 |
1,4 3,0 |
4,9 11,0 |
44,2 – |
91-95 | Vol % |
36,7 75,0 |
4,0 9,0 |
2,4 5,0 |
51,1 – |
96-98 | Vol % |
42,9 71,0 |
7,2 14,0 |
4,5 6,0 |
62,7 – |
Fonte: OIV |
O 2º grupo de países representa o “novo mundo vitícola” e inclui os principais exportadores: a Argentina, o Chile, a África do Sul, a Austrália e os EUA. Este grupo encontra-se em franca expansão: passa de 2% para 14% na quota relativa do mercado mundial, o que corresponde a multiplicar por 10 o seu volume de exportações (0,7 e 7,2 milhões de hl, respectivamente no início e fim do período).
Em sentido contrário evoluíram as exportações dos PECO (países da Europa Central e Oriental, representados nesta análise pela Bulgária, Hungria e Roménia) e dos países do Magrebe (Argélia, Tunísia e Marrocos). Reduziram o seu volume de exportação de 7,0 para 4,5 milhões de hl no período em análise, o que corresponde a uma quota actual em torno dos 6% contra 14% no quinquénio 81/85.
Portugal foi, em 1997, o 4º maior exportador europeu em volume de exportação e 5º mundial. Os dados de 1998 apontam para uma redução importante dos volumes de exportação, resultado essencialmente de uma situação conjuntural de perda de produção. No início dos anos 70 exportávamos, em média, 2 milhões de hectolitros (5% do mercado mundial), tendo atingido em 1997 o volume de 2,4 (3% do mercado mundial), ritmo de crescimento inferior ao aumento do mercado.
A diversidade e tipicidade dos nossos vinhos são vantagens comparativas significativas para o reforço da nossa quota no mercado internacional. A eficiência da estrutura produtiva é contudo fundamental, mesmo se a nossa competitividade não esteja unicamente centrada nos custos de produção.
Portugal é o país vitícola do mundo que dedica à viticultura a maior percentagem da sua superfície agrícola útil, aproximadamente 9%. Bastará este indicador para pôr em relevo a importância do sector no contexto da agricultura portuguesa. Dois outros dados revelam contudo uma fraqueza no campo da eficácia do sistema produtivo: um baixo rendimento por hectare (um dos mais baixos no panorama mundial) e uma variação inter-anual de rendimento muito acentuada (os últimos três anos são a prova cabal deste facto).
Existe por conseguinte um importante trabalho de modernização a realizar na nossa viticultura, não obstante os avanços verificados nos últimos anos, que se concretizam contudo a um ritmo insuficiente face aos desafios que o crescimento do mercado mundial nos coloca.
Um outro campo de actuação deverá ser o reposicionamento da imagem dos vinhos portugueses. A acção da ViniPortugal, em articulação com o trabalho de promoção das empresas portuguesas já presentes no mercado mundial, constitui um instrumento fundamental para o bom posicionamento dos excelentes vinhos portugueses no difícil mercado mundial do vinho.
28/02/2000
Fernando Bianchi de Aguiar
(Presidente do Office International de la Vigne et du Vin)