Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar: Obrigação ou Opção Estratégica? – Pedro Falcato

A segurança dos produtos agro-alimentares foi abalada nos últimos anos por crises sucessivas na cadeia alimentar. De forma a restabelecer a confiança dos consumidores, é necessário evitar que estas situações sucedam com a regularidade e a gravidade dos últimos anos.

A melhor forma de o fazer é implementar Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar, como o HACCP – Hazard Analysis Critical Control Point, ou outros sistemas mais evoluídos, como o exigido pelo Consórcio de Retalhistas Britânicos – BRC, ao longo de toda a cadeia alimentar, de forma a oferecer uma maior garantia de Segurança Alimentar ao consumidor.

No desempenho das minhas funções na CONSULAI fui frequentemente contactado por indústrias agro-alimentares, que tinham sido visitadas recentemente pela Direcção-Geral de Fiscalização e Controlo da Qualidade Alimentar, cujo incumprimento das exigências legais em matéria de Segurança Alimentar forçou a decisão de implementação de um Sistema de Autocontrolo ou HACCP. Na verdade, até há bem pouco tempo, as indústrias agro-alimentares implementavam sistemas de segurança alimentar quase unicamente porque a tal eram obrigadas por exigências legais.

Deste modo, e por não reconhecerem vantagens evidentes ao Sistema de Gestão de Segurança Alimentar, os responsáveis destas indústrias não participavam com o empenho necessário na sua criação, não permitindo a optimização da sua implementação nem o usufruir dos benefícios que daí poderiam advir. A decisão de implementação do Sistema de Gestão de Segurança Alimentar acabava por ser suportada por uma motivação negativa, condicionando o sucesso do processo e comprometendo mesmo o retorno do investimento efectuado.

Recentemente, esta situação alterou-se, com uma cada vez maior consciencialização para esta problemática. Esta alteração deveu-se, principalmente, a uma maior contrapartida comercial que se atribui aos agentes do sector alimentar que têm apostado na implementação de Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar. Existem, de facto, inúmeros exemplos recentes que apontam para um rápido retorno dos investimentos efectuados nesta área.

Por outro lado, se é verdade que em Portugal as grandes superfícies não têm sido, até aqui, demasiado exigentes no que respeita à Segurança Alimentar dos produtos que comercializam, seguindo o exemplo das suas congéneres Europeias, também é verdade que estas aumentaram recentemente a exigência aos seus fornecedores, impondo elevados padrões de Qualidade e Segurança Alimentar.

Actualmente, tanto as grandes superfícies como os vários agentes que actuam na gestão da cadeia de abastecimento alimentar, estão mais conscientes das vantagens que resultam da adopção destes sistemas. A consolidação da produção e globalização crescente da oferta de produtos alimentares tem como consequência uma multiplicação dos efeitos e consequências dos problemas que podem ocorrer a qualquer nível da cadeia. Uma intoxicação alimentar originada por um produto comercializado por uma marca com presença global, por exemplo, pode provocar perdas irremediáveis não só na marca do produto como afectar indirectamente as superfícies que o comercializam.

As indústrias agro-alimentares com quem a CONSULAI colabora actualmente possuem, de uma forma geral, duas características que as diferenciam no mercado: efectuaram uma aposta clara na Qualidade dos produtos que oferecem e possuem uma motivação elevada para a Implementação de Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar. A maior parte destas empresas considera mesmo estes sistemas como fundamentais nos seus planos estratégicos, assumindo-os como um dos principais vectores de diferenciação num mercado cada vez mais exigente e competitivo.

De uma obrigação, as empresas passaram a reconhecer a implementação dos Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar como uma opção estratégica, ao verificar que estes sistemas permitem acrescentar valor aos seus produtos. Ao aumentarem a satisfação e fidelização dos seus clientes, além de lhes permitir o cumprimento de exigências legais, os Sistemas de Gestão de Segurança Alimentar passaram a ser não só uma obrigação legal mas igualmente uma componente essencial para a afirmação no mercado e diferenciação das empresas.

Pedro Falcato
Director Comercial da CONSULAI, Lda


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