A derivação de água, para rega das várzeas adjacentes a cursos de água, pode ser realizada pela elevação do regolfo, impropriamente denominado por “plano de água”, através de estruturas construídas no respectivo leito. Quando a estrutura desenvolve um regolfo, contido pelas margens do curso de água, toma o nome de açude.
É frequente os açudes serem estruturas fixas que, embora cumpram a sua função de reter a água para efectivar a derivação, constituem obstáculo à vazão dos caudais elevados que ocorrem durante a estação húmida, provocando a inundação dos terrenos adjacentes com prejuízo para os solos aí ocorrentes quer pela deposição de substratos menos produtivos quer pela formação de zonas erosionadas, denominadas na gíria por “alvercões”, provocadas por escorrimentos rápidos resultantes do estabelecimento de caminhos de escoamento preferencial localizado. Por outro lado, os açudes fixos promovem a sedimentação do leito do curso de água retirando-lhe capacidade de regulação.
Deste modo, é claro que o recurso a açudes rebatíveis, açudes que durante a campanha de rega constituem um esbarro ao escoamento e durante a estação húmida garantem uma secção de escoamento franca sem qualquer obstáculo, obvia os constrangimentos mencionados.
A ex-Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, na década de 50, no âmbito da obra de defesa e de saneamento (drenagem) das várzeas do rio Lis, promovida com o propósito de reduzir a incidência da malária e de protecção de todo o vale, construiu subsidiariamente dois açudes: o Açude do Arrabalde junto à cidade de Leiria que constituía um açude temporário de vigotas, montado durante a campanha de rega e desmontado durante a estação húmida e o Açude das Salgadas, na freguesia da Carreira junto a Monte Real.
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Fig. 1 – Aspecto do Antigo Açude das Salgadas no Aproveitamento Hidroagrícola do Vale do Lis
O Açude das Salgadas, construído no leito de estiagem do rio, para promover a derivação de água para a rega dos campos adjacentes, à data da sua construção, não deixou de ser uma estrutura inovadora, pois era constituído (Fig. 1) por um açude rebatível com as vantagens anteriormente descritas. Projectado pela empresa NEYRPIC-SOREFAME, era constituído por um tabuleiro metálico, basculante num dos lados, suspenso no lado livre por dois tirantes, cada um fixado a um dos braços de uma alavanca interfixa, que no outro braço suspendia um reservatório de água com 30 m3 de capacidade. O enchimento ou o esvaziamento do reservatório promovia a subida ou descida do tabuleiro, elevando ou descendo o regolfo a montante.
Ao longo dos anos de funcionamento foi sofrendo a deposição de detritos no interface entre o tabuleiro e os encontros o que gradualmente veio a criar dificuldades na sua operação. No decorrer da década de 90, coincidindo com o fim da sua vida útil, a estrutura apresentava inúmeras deficiências de funcionamento e de estanqueidade, o que tornava inviável do ponto de vista técnico-económico qualquer tentativa de recondicionamento.
Após a análise de vários estudos realizados previamente, foi aprovada, em Abril de 1999, pelo ex-Instituto de Hidráulica, Engenharia Rural e Ambiente (IHERA), actual Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica (IDRHa), e pela Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Lis (ARBVL), a solução definida no Estudo Prévio para aquela secção do rio Lis em que, na nova concepção do açude, a água é represada por uma solução inovadora no nosso País tal como o tinha sido também na sua época a anterior estrutura.
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Figura 2
Corte Esquemático do Açude Insuflável
A câmara de ar (Fig. 2) – peça central da “barragem insuflável” – é constituída por uma peça de dois panos de borracha sintética reforçada com tela, panos esses colados num dos lados por vulcanização longitudinal e, no outro, entalados entre dois perfis de aço. O perfil inferior encontra-se encastrado no rasto e nas espaldas de uma soleira de betão armado com perfil trapezoidal. O enchimento da câmara é feito por um compressor (bomba de ar) e o esvaziamento por uma electroválvula.
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Figura 3
Corte da Infra-estrutura
A infra-estrutura (Fig. 3) está fundada em oito estacas de betão com 0,60 m de diâmetro e comprimentos variáveis entre 18 e 24 m. Possui uma secção trapezoidal que, em relação à secção de estiagem, é ligeiramente estrangulada para que a velocidade quando o açude não se encontra operacional, seja incrementada e assim os sedimentos aí depositados sejam varridos pelo escoamento. O rasto, na secção do açude, tem uma largura de 7,0 m e as espaldas encontram-se inclinadas 1:1. A altura máxima da câmara de ar, em funcionamento, é de 3,25 m, sendo a largura da boca de 13,5 m.
A derivação para a rede de rega, na margem esquerda, é feita através de um tubo em PEAD Æ 630, equipado com uma válvula de borboleta motorizada DN600.
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Figura 4
Aspecto do Açude Actual em Operação
O funcionamento do açude é totalmente automático, comandado por um autómato programado, controlando os níveis para que a derivação de caudais para rega se processe de acordo com as necessidades. Fora de operação, o que ocorre normalmente durante o período de Inverno, a câmara de ar estará totalmente vazia, ficando a tela de borracha completamente aderida ao fundo e às espaldas da estrutura de betão de forma a garantir que a secção trapezoidal fique totalmente livre e sem qualquer obstrução aos caudais afluentes.
Dado que esta “barragem insuflável” constitui um equipamento de funcionamento automático para responder às situações naturais que vão ocorrendo, foi ainda instalado um sistema de televigilância, monitorização e controle dos parâmetros de funcionamento ligado, por modem, a uma central de comando instalada na Sede da Associação de Beneficiários do Vale do Lis.
Características gerais:
– Tipo de comporta Insuflável
– Largura do vão a obturar 7,00 m
– Altura do vão a obturar 3,25 m
– Inclinação das paredes laterais 1 (V) : 1 (H)
– Cota da soleira 3,65 m
– Cota do NPA 6,90 m
– Cota da plataforma 8,00 m
IDRHa – Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica
Direcção de Serviços de Gestão de Projectos e Obras